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LIVROS
BIOGRAFIA
Livro de Tom Cardoso apresenta a trajetória do editor e colunista
Jornalista Tarso de Castro ganha revisão passional
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Tarso de Castro (1941-1991) é
um tempo que acabou. Não por
culpa dele ou de alguém em particular, mas porque o tal curso da
história parece ter fechado as portas para jornalistas combativos
(no sentido de raivosos e parciais), polêmicos (de fato, não os
caricatos), idiossincráticos (ele escrevia o que vinha na telha, normalmente umedecida pelo álcool)
e apaixonados (atacava e ridicularizava os inimigos da hora, que
podiam ser os amigos de ontem
ou de amanhã).
Como tudo que o envolvia, a
biografia "Tarso de Castro - 75 kg
de Músculos e Fúria", que acaba
de chegar às livrarias, é passional.
Seu autor, o jornalista Tom Cardoso, 32, considera esse adjetivo
forte. Prefere dizer que procurou
fazer justiça ao personagem, um
dos homens de imprensa mais
polêmicos do país entre os anos
60 e 80.
"Apesar de ser um porra-louca,
um homem de bar, Tarso era um
profissional responsável, um fazedor de muitas coisas. Infelizmente, pouco se fala dele hoje",
diz Cardoso.
Gaúcho de Passo Fundo, filho
de um dono de jornal e cacique
trabalhista local, Tarso herdou do
pai as paixões por jornalismo e
Leonel Brizola -paixões que se
fundiram mais de uma vez.
Adolescente, já incomodava
com seu estilo sarcástico-abrasivo
em "O Nacional", jornal do pai.
Passo Fundo ficou pequena, foi
para Porto Alegre, para a "Última
Hora" gaúcha. O Rio Grande ficou pequeno, mudou-se para o
Rio de Janeiro, onde conquistou
uma coluna na "Última Hora" em
que ironizava ou atacava mesmo
os militares. Em 1969, ajudou a
criar o mais importante dos jornais de esquerda surgidos durante a ditadura.
"Quis fazer justiça, especialmente, quanto à criação do "Pasquim". Tarso é quem foi convidado para substituir Sérgio Porto
[editor de "A Carapuça", que se
transformou em "O Pasquim'], ele
foi o grande catalisador. Hoje, até
gente que teve participação pequena é mais associada ao jornal
do que ele", diz Cardoso.
Dos dois mais notórios desafetos de Tarso dessa época, o autor
conseguiu entrevistar Ziraldo,
mas não Millôr Fernandes, que
não respondeu a seus pedidos.
Millôr acaba saindo do livro como
uma espécie de vilão, em especial
por ter sido o único prócer do
"Pasquim" a não ser preso pelos
militares.
A carreira de Tarso teve outros
grandes momentos na Folha, por
onde passou três vezes: entre 1975
e 77, quando foi editor da Ilustrada e criou o "Folhetim", suplemento dominical lançado em 23
de janeiro de 1977 e que foi revolucionário na época, com grandes
entrevistas, perfis, reportagens e
colunistas de peso, tratando de
política, cultura e comportamento; entre 1982 e 85, quando assinou uma muito lida coluna na
Ilustrada; e na "Folha da Tarde",
entre 1988 e 91.
Conquistou a admiração do dono do jornal, Octavio Frias de Oliveira, e de Claudio Abramo, diretor de Redação, mas, durante sua
segunda passagem, bateu de frente com as mudanças que vinham
sendo implantadas. Perdeu sua
coluna por "divergências com as
concepções jornalísticas em prática na Folha", conforme nota do
jornal reproduzida no livro. Cardoso cita entreveros que culminaram com sua saída.
O autor veste, no livro, a camisa
de seu (anti-)herói. Isso não significa que tenha omitido características fundamentais de Tarso. Estão lá o irascível, o incontrolável, o
inconciliável, o intransigente, o
inveterado alcoólatra que não admitia se tratar e morreu de cirrose
hepática aos 49 anos ("Prefiro viver pela metade por uma garrafa
de uísque inteira a viver a vida inteira bebendo pela metade.").
Também estão o bem-sucedido
sedutor, que conquistou muitas e
até inalcançáveis mulheres, como
a atriz norte-americana Candice
Bergen, e o dono de amizades fidelíssimas com Chico Buarque,
Caetano Veloso, Glauber Rocha e
outros.
"Eu gostaria de ter sido jornalista naquela época, quando havia
uma cumplicidade entre artistas e
jornalistas. Tarso ia a campo, conseguia muitas pautas e entrevistas
no bar", diz Cardoso.
Sua admiração pelo personagem permite que as versões de
Tarso sobre os fatos sobressaiam,
mesmo que às vezes haja um tanto de folclore nessas versões. Mas
também confere paixão ao relato
sobre um homem que sempre foi
passional.
Tarso de Castro - 75 kg de Músculos e Fúria
Autor: Tom Cardoso
Editora: Planeta
Quanto: R$ 37,50 (280 págs.)
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