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BIA ABRAMO
Novela retoma obscurantismo
A Tupi explorava temas
mais arcaicos em suas
tramas, e Ivani Ribeiro
foi a sua grande autora
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QUEM cresceu nos anos 70
lembra do pavor que eram as
novelas de Ivani Ribeiro. Não
que fossem muito piores que as da
Globo, mas quase todas lidavam, de
alguma forma, com o lado escuro da
existência e isso, nos televisores em
preto-e-branco que ainda eram
maioria, ficava ainda mais assustador.
Enquanto as novelas globais, com
algumas exceções aqui e ali, apostavam numa certa modernidade de
costumes e de comportamento, a
Tupi cultivava despudoradamente o
obscurantismo.
Apesar de a Tupi ter inaugurado a
telenovela "moderna" com "Beto
Rockfeller", quem melhor aproveitou as ousadias experimentadas ali
foi a Rede Globo, com seu projeto
mais "realista" e afinado com a contemporaneidade. Com isso, suas novelas atingiram prestígio crescente
nos anos 70 e foram umas das principais responsáveis por sua ascensão
vertiginosa.
À Tupi restou, então, explorar um
nicho mais arcaico de temas e de
motivos em suas novelas, apelando
para histórias com elementos paranormais, com forte carga mística e
quetais. A grande autora e também
grande no sentido de bem-sucedida
dessa tendência foi Ivani Ribeiro,
cujas novelas eram "fortes" e davam
pesadelos nas crianças.
Curiosamente, de uns tempos para cá, a Rede Globo deixou de ter dois
pudores importantes: o de fazer remakes da antiga concorrência e o de
explorar também o misticismo e os
temas esotéricos e vem sendo, em
termos de audiência, feliz nesse sentido. "O Profeta", que estreou no horário das 18h há duas semanas, retoma o original da Tupi num diapasão
mais juvenil, talvez um pouco menos cafona, mas com a premissa absurda intacta.
Claro que a ficção deve ser fantasiosa, a falta de fantasia e de imaginação é justamente um dos grandes
problema das novelas e pode partir
de absurdo, mas a idéia de que alguém pode ser um joguete de um
destino já traçado vai um pouco
além de um simples arroubo imaginativo e da tolerância ao incrível.
Além do protagonista fraquinho, a
novela vai ter que se haver com esse
tom anacrônico, tão avesso ao individualismo moderno.
Já a Record parece estar acertando mais com sua novelinha juvenil,
"Alta Estação". Sem arriscar coisa
nenhuma e na trilha segura aberta
por "Malhação", é só preciso caprichar um pouco mais na produção
para tornar-se uma alternativa para
os mais crescidinhos que ainda gostam de se olhar no espelho distorcido da caricatura "jovem".
biabramo.tv@uol.com.br
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