São Paulo, domingo, 29 de outubro de 2006

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BIA ABRAMO

Novela retoma obscurantismo


A Tupi explorava temas mais arcaicos em suas tramas, e Ivani Ribeiro foi a sua grande autora

QUEM cresceu nos anos 70 lembra do pavor que eram as novelas de Ivani Ribeiro. Não que fossem muito piores que as da Globo, mas quase todas lidavam, de alguma forma, com o lado escuro da existência e isso, nos televisores em preto-e-branco que ainda eram maioria, ficava ainda mais assustador.
Enquanto as novelas globais, com algumas exceções aqui e ali, apostavam numa certa modernidade de costumes e de comportamento, a Tupi cultivava despudoradamente o obscurantismo.
Apesar de a Tupi ter inaugurado a telenovela "moderna" com "Beto Rockfeller", quem melhor aproveitou as ousadias experimentadas ali foi a Rede Globo, com seu projeto mais "realista" e afinado com a contemporaneidade. Com isso, suas novelas atingiram prestígio crescente nos anos 70 e foram umas das principais responsáveis por sua ascensão vertiginosa.
À Tupi restou, então, explorar um nicho mais arcaico de temas e de motivos em suas novelas, apelando para histórias com elementos paranormais, com forte carga mística e quetais. A grande autora e também grande no sentido de bem-sucedida dessa tendência foi Ivani Ribeiro, cujas novelas eram "fortes" e davam pesadelos nas crianças.
Curiosamente, de uns tempos para cá, a Rede Globo deixou de ter dois pudores importantes: o de fazer remakes da antiga concorrência e o de explorar também o misticismo e os temas esotéricos e vem sendo, em termos de audiência, feliz nesse sentido. "O Profeta", que estreou no horário das 18h há duas semanas, retoma o original da Tupi num diapasão mais juvenil, talvez um pouco menos cafona, mas com a premissa absurda intacta.
Claro que a ficção deve ser fantasiosa, a falta de fantasia e de imaginação é justamente um dos grandes problema das novelas e pode partir de absurdo, mas a idéia de que alguém pode ser um joguete de um destino já traçado vai um pouco além de um simples arroubo imaginativo e da tolerância ao incrível.
Além do protagonista fraquinho, a novela vai ter que se haver com esse tom anacrônico, tão avesso ao individualismo moderno.
Já a Record parece estar acertando mais com sua novelinha juvenil, "Alta Estação". Sem arriscar coisa nenhuma e na trilha segura aberta por "Malhação", é só preciso caprichar um pouco mais na produção para tornar-se uma alternativa para os mais crescidinhos que ainda gostam de se olhar no espelho distorcido da caricatura "jovem".

biabramo.tv@uol.com.br

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