São Paulo, quinta-feira, 29 de novembro de 2007

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Análise

Vaia reafirma força do festival quarentão

JOSÉ GERALDO COUTO
CRÍTICO DA FOLHA, EM BRASÍLIA

Viva a vaia. Ela mostra que o Festival de Brasília é um quarentão "enxuto e tesudo", para repetir as palavras que o cineasta baiano Edgar Navarro usou para qualificar o colega Carlos Reichenbach durante sua intervenção no debate do filme deste último, "Falsa Loura".
Apesar dos seis Candangos para "Cleópatra", a decisão do júri não deve ter sido fácil. Estavam em competição seis longas mais do que dignos de reconhecimento, cada um deles apostando num modo diferente de fazer cinema. Em circunstâncias assim, escolher é uma tarefa cruel.
O favorito do público, "Chega de Saudade", de Laís Bodanzky, é um primor de competência e delicadeza ao tratar de um tema espinhoso, sobretudo para uma realizadora tão jovem: a libido na chamada terceira idade.
O modo como a diretora entrelaça os dramas e desejos de uma dúzia de personagens nos limites restritos de espaço e tempo (uma noite num salão de danças) justifica plenamente os prêmios conquistados, de direção e roteiro.
Mas "Cleópatra" é cinema de outro calibre. Uma viagem da inteligência e da sensibilidade por esse Mediterrâneo imaginário em que se cruzam as potências criativas da Europa, da Ásia e da África.
Ao adotar um viés lírico, luso-brasileiro, para abordar o mito de Cleópatra, Bressane não abandonou a dimensão histórico-épica da personagem, mas como que a condensou no erótico, no sensorial.
Um exemplo ao acaso: enquanto a câmera se fecha num detalhe da túnica grená de César, ouvimos na trilha sonora o mar, cavalos, retinir de espadas: toda a campanha romana no Egito numa admirável síntese audiovisual.
Nem todos embarcaram nessa viagem, o que é uma pena. Uma pena também que "Falsa Loura" -talvez o Reichenbach mais leve e inspirado dos últimos anos- tenha ficado na sombra, bem como o amoroso e radical "Anabazys".
Premiando "Meu Mundo em Perigo", de José Eduardo Belmonte, a crítica optou, com boas razões, por apostar num cineasta ainda em evolução, mas cheio de vitalidade. E Rosane Mulholland -que brilha tanto em "Meu Mundo" quanto em "Falsa Loura"- talvez tenha sido a grande injustiçada da noite.


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