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Coleção reduz distância entre centro e periferia
Vida no morro e rap estão na série "Tramas Urbanas"
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Mais do que produções da
chamada cultura da periferia,
os livros da coleção "Tramas
Urbanas" contam histórias de
pontes entre partes diferentes
das cidades partidas. A editora
Aeroplano lançou ontem, no
Rio, os primeiros cinco títulos,
e pretende chegar a 20 até o fim
de 2008.
A curadoria é de Ecio Salles,
cujo "Poesia Revoltada" foi o
embrião da coleção. Empolgada com a dissertação de mestrado, Heloisa Buarque de Hollanda, da Aeroplano, quis editá-la, mas sugeriu ampliar a
idéia para outros livros.
"Os temas problematizam as
relações cidade-favela, centro-periferia, rompendo com as lógicas habituais e oferecendo
novos pontos de vista", afirma
Salles, que trabalhou dez anos
no Grupo Cultural AfroReggae.
Seu livro tem como matéria-prima as letras de três nomes
importantes do rap nacional:
MV Bill, Racionais MCs e GOG.
É um estudo teórico, mas também um testemunho de quem
acompanha o movimento de
perto. Em todos os títulos da
coleção, a primeira pessoa se
faz presente.
"Os autores se reconhecem
como participantes de um coletivo", resume Salles.
Foi o que fez a jornalista
Cristiane Ramalho ao escrever
sobre o site Viva Favela, que
editou de 2001 a dezembro de
2005. Ela pensou primeiramente num volume de artigos,
de teor mais acadêmico, mas foi
convencida pela editora Heloisa Buarque de Hollanda a fazer
uma reportagem.
"A grande história eram mesmo os bastidores desse jornalismo que fazíamos nas favelas
do Rio. Usei como fio condutor
os correspondentes comunitários, que eram os repórteres do
site, mostravam as favelas para
a gente e até para eles mesmos,
pois descobriam lugares e coisas que não conheciam", explica Ramalho.
O projeto do Viva Favela
-que ainda está no ar- surgiu
na ONG Viva Rio a pedido de lideranças comunitárias, que
queriam reportagens que fugissem da visão estereotipada das
favelas como lugares apenas de
tráfico de drogas e violência.
"Encontramos histórias
muito ricas culturalmente,
exemplos de solidariedade, coisas que a mídia nem consegue
saber por causa da dificuldade
de se chegar até lá. Esses repórteres comunitários criaram
uma circulação de informações
entre o asfalto e a favela", diz a
jornalista, lembrando que o site
se tornou fonte de muitas pautas para repórteres da grande
imprensa.
Hip hop
Dois dos outros títulos da coleção abordam o hip hop, mas
com percursos diferentes. Enquanto DJ Raffa conta como
mergulhou na música dita de
periferia sendo filho do compositor erudito Cláudio Santoro, o
DJ TR avalia o movimento do
ponto de vista de um jovem da
Cidade de Deus, favela da zona
oeste carioca.
O quinto título é "Cidade
Ocupada", escrito pelo multiartista Ericson Pires, que integra
o coletivo Hapax e articula outros projetos coletivos no Rio.
Na próxima safra, prevista
para abril, estará um livro de
Tia Dag, que trabalha com jovens do Capão Redondo, em
São Paulo.
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