São Paulo, quinta-feira, 29 de novembro de 2007

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Coleção reduz distância entre centro e periferia

Vida no morro e rap estão na série "Tramas Urbanas"

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Mais do que produções da chamada cultura da periferia, os livros da coleção "Tramas Urbanas" contam histórias de pontes entre partes diferentes das cidades partidas. A editora Aeroplano lançou ontem, no Rio, os primeiros cinco títulos, e pretende chegar a 20 até o fim de 2008.
A curadoria é de Ecio Salles, cujo "Poesia Revoltada" foi o embrião da coleção. Empolgada com a dissertação de mestrado, Heloisa Buarque de Hollanda, da Aeroplano, quis editá-la, mas sugeriu ampliar a idéia para outros livros.
"Os temas problematizam as relações cidade-favela, centro-periferia, rompendo com as lógicas habituais e oferecendo novos pontos de vista", afirma Salles, que trabalhou dez anos no Grupo Cultural AfroReggae.
Seu livro tem como matéria-prima as letras de três nomes importantes do rap nacional: MV Bill, Racionais MCs e GOG. É um estudo teórico, mas também um testemunho de quem acompanha o movimento de perto. Em todos os títulos da coleção, a primeira pessoa se faz presente.
"Os autores se reconhecem como participantes de um coletivo", resume Salles.
Foi o que fez a jornalista Cristiane Ramalho ao escrever sobre o site Viva Favela, que editou de 2001 a dezembro de 2005. Ela pensou primeiramente num volume de artigos, de teor mais acadêmico, mas foi convencida pela editora Heloisa Buarque de Hollanda a fazer uma reportagem.
"A grande história eram mesmo os bastidores desse jornalismo que fazíamos nas favelas do Rio. Usei como fio condutor os correspondentes comunitários, que eram os repórteres do site, mostravam as favelas para a gente e até para eles mesmos, pois descobriam lugares e coisas que não conheciam", explica Ramalho.
O projeto do Viva Favela -que ainda está no ar- surgiu na ONG Viva Rio a pedido de lideranças comunitárias, que queriam reportagens que fugissem da visão estereotipada das favelas como lugares apenas de tráfico de drogas e violência.
"Encontramos histórias muito ricas culturalmente, exemplos de solidariedade, coisas que a mídia nem consegue saber por causa da dificuldade de se chegar até lá. Esses repórteres comunitários criaram uma circulação de informações entre o asfalto e a favela", diz a jornalista, lembrando que o site se tornou fonte de muitas pautas para repórteres da grande imprensa.

Hip hop
Dois dos outros títulos da coleção abordam o hip hop, mas com percursos diferentes. Enquanto DJ Raffa conta como mergulhou na música dita de periferia sendo filho do compositor erudito Cláudio Santoro, o DJ TR avalia o movimento do ponto de vista de um jovem da Cidade de Deus, favela da zona oeste carioca.
O quinto título é "Cidade Ocupada", escrito pelo multiartista Ericson Pires, que integra o coletivo Hapax e articula outros projetos coletivos no Rio.
Na próxima safra, prevista para abril, estará um livro de Tia Dag, que trabalha com jovens do Capão Redondo, em São Paulo.


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