São Paulo, domingo, 29 de novembro de 2009

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Crítica/DVD

Em edições oficiais, filmes de Truffaut evidenciam pulsação dos sentimentos

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

"Todo mundo quer amor, seja o físico, seja o sentimental." A fórmula, dita a certa altura pelo protagonista de "O Homem que Amava as Mulheres", ilustra cada um dos títulos da filmografia de François Truffaut (1932-1984). Representar sob múltiplos ângulos a validade universal dessa máxima garantiu a seus filmes manterem intactos a beleza e o frescor.
Três deles, que tiveram recepção pouco acalorada em seus lançamentos, retornam ao mercado em edições oficiais, ou seja, com o selo da qualidade da Versátil, e não nas versões mambembes que a Silver Screen comercializa. "A Noiva Estava de Preto" (1968), "A Sereia do Mississipi" (1969) e "O Homem que Amava as Mulheres" (1977) refletem, a seu modo, temas morais e preocupações estéticas distintos. Vistos juntos, eles projetam a interpretação sempre irônica, mas nunca cínica ou desencantada, de Truffaut sobre a pulsação vital dos sentimentos.
O primeiro do lote traz Jeanne Moreau, em seu único reencontro com o diretor após o mítico "Jules e Jim - Uma Mulher para Dois" (1962). Em "A Noiva Estava de Preto", a atriz encarna Julie, uma viúva cujo casamento terminou ainda nos degraus da igreja e que, por isso, toma por missão vingar-se dos responsáveis pelo fim abrupto de sua promessa de felicidade.
"Noir" desde o título, essa farsa reaproxima o diretor do universo criminal que ele já frequentara no magnífico "Atirem no Pianista" (1960). Mais que exercício de gênero, contudo, trata-se, como define o próprio Truffaut, "de um filme de amor sem nenhuma cena de amor" e no qual cada assassinato é encenado como obra de arte, num exercício de admiração ao gênio de Hitchcock.
Amor e morte(s) também servem de motor para "A Sereia do Mississipi", outra deliciosa farsa em que Truffaut nos diverte invertendo as imagens àquela altura consolidadas de Jean-Paul Belmondo e Catherine Deneuve, ele num registro antiviril e refém do romantismo, ela, avessa à doçura sentimental, como predadora.
Do lado de lá da morte, Bertrand, o incansável sedutor de "O Homem que Amava as Mulheres", entrega suas memórias como uma sucessão de conquistas. Por meio da dedicação de seu personagem a todas as mulheres do mundo, alguém capaz de morrer de tanto amar, Truffaut eleva sua crença romântica a uma altura que ele só ultrapassaria adiante no majestoso "A Mulher do Lado".


A NOIVA ESTAVA DE PRETO, A SEREIA DO MISSISSIPI, O HOMEM QUE AMAVA AS MULHERES

Distribuidora: Versátil
Quanto: cerca de R$ 100 (caixa) ou R$ 45 (cada um)
Classificação: livre
Avaliação: ótimo




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