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São Paulo, segunda-feira, 29 de dezembro de 2003

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POLÍTICA CULTURAL

Devido à pequena efetividade, modelo de financiamento a cultura sofre mudanças no ano que vem

14% de projetos ganham apoio em 2003

FERNANDA KRAKOVICS
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dos 2.007 projetos culturais aprovados pelo Ministério da Cultura neste ano para captar recursos de acordo com a Lei Rouanet, apenas 14% -281 projetos- conseguiram apoio financeiro da iniciativa privada até o final da semana passada. A maioria deles, no entanto, conseguiu arrecadar apenas uma parcela do valor total. O prazo de captação expira no próximo dia 31.
Devido à pequena efetividade da legislação, o ministro Gilberto Gil (Cultura) pretende modificar no próximo ano o modelo de financiamento. Segundo a assessoria de imprensa do ministério, a intenção é aumentar a renúncia fiscal e incentivar a produção cultural nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. O ministério realizou seminários em 15 cidades, de junho a agosto, para colher sugestões de produtores e artistas.
Dos 281 projetos que conseguiram financiar pelo menos parte dos seus custos, 98 são de São Paulo e 62 do Rio de Janeiro. Em seguida, estão Minas Gerais e Paraná (21 projetos cada um), Distrito Federal (18) e Rio Grande do Sul (17).
Mesmo com a supremacia paulista, projetos como a ópera "Salomé", do Teatro Municipal, não conseguiram financiamento. A Orquestra Filarmônica também não conseguiu nada do R$ 1,8 milhão que foi autorizada a captar para a temporada 2003/2004.
Outros que não tiveram sucesso foram a 5ª Bienal Internacional de Arquitetura e Design, que queria R$ 3,6 milhões, e a "Retrospectiva Picasso", da BrasilConnects Cultura, ao custo de R$ 5,5 milhões.
Nem artistas conhecidos como Roberto Carlos e Maria Bethânia foram bem-sucedidos. O projeto do primeiro era fazer um show em Goiânia (GO) por R$ 95 mil e o da segunda, fazer a turnê "Maria Bethânia Canta Vinícius" em nove cidades. Já a cantora Elza Soares queria R$ 250 mil para a realização de um DVD do show "Do Cóccix Até o Pescoço".
A Trama tinha um projeto ambicioso que não contou com o apoio da iniciativa privada. "Realizar três grandes eventos aglutinadores de talentos artísticos, em três cidades de diferentes Estados brasileiros, com a duração de sete dias cada, envolvendo sete áreas distintas: música, texto, web, corpo, artes visuais, moda e cinema. Possibilitar encontro e troca de experiências entre agentes culturais de projeção nacional e regionais, para identificar a seleção de talentos", propôs a gravadora.
O Carnaval carioca de 2004 também não sensibilizou o empresariado. Os desfiles da Estação Primeira de Mangueira, Mocidade Independente de Padre Miguel e Estácio de Sá não se beneficiaram da lei. O enredo da última é "A Estácio É Dez, o Brasil É Mil e a Fome É Zero".
A Fundação Roberto Marinho não conseguiu patrocínio em troca de renúncia fiscal para o projeto "Memória da UNE", que previa uma página na internet, CD-ROM e gravação de um vídeo com dirigentes e militantes.
A fundação também não conseguiu recursos para a revitalização da igreja de São Francisco, na Pampulha, em Belo Horizonte (MG). O projeto previa a implantação de um roteiro narrado e de sinalização turística, cultural e ambiental, integrando obras do arquiteto Oscar Niemeyer.
Entre os projetos que conseguiram captar recursos fora do eixo Rio-São Paulo estão a Escola de Teatro Bolshoi no Brasil, em Santa Catarina, que conseguiu R$ 487 mil dos R$ 5 milhões pretendidos, e o "Aprendendo com Arte: Módulo Artes Cênicas", da Fundação Social Raimundo Fagner, no Ceará. Foram captados R$ 30 mil dos R$ 44 mil previstos.


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