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Livro analisa a diluição de fronteiras
Com textos de Paulo Herkenhoff e ensaios fotográficos, "Onde a Água Encontra a Terra" é desdobramento de exposição
A norte-americana Carol Armstrong e os brasileiros Fernando Azevedo e Leonardo Kossoy retratam relação de sólido com líquido
EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A poética do embate entre
opostos é a tônica do recém-lançado livro "Onde a Água Encontra a Terra", com fotografias da norte-americana Carol
Armstrong e dos brasileiros
Fernando Azevedo e Leonardo
Kossoy, base para um aprofundado estudo do curador Paulo
Herkenhoff sobre a relação entre a imagem fotográfica e teorias da cultura e da arte.
Para além da água e da terra,
a metáfora do encontro e da diluição de fronteiras se deu também entre os autores do livro,
que decorreu de exposição homônima realizada no Centro
Cultural Banco do Brasil do
Rio, no último mês de julho.
Armstrong é professora de
história da arte e escreve na influente revista "October"; o carioca Azevedo, que vive há 20
anos nos EUA, é mestre em filosofia e curador, e Kossoy, formado em direito, atua com fotografia desde os anos 60.
Neste projeto, porém, todos
colocaram em prática a verve
artística, ainda que em alguns
casos ela surja claramente a reboque de estudos acadêmicos,
sobretudo, em Armstrong.
A curadoria de Herkenhoff
tentou localizar pontualmente
intersecções entre as obras dos
três artistas para flagrar, dentro da perspectiva da história
da arte e do pensamento de autores como Gaston Bachelard,
Roland Barthes e Rosalind
Krauss, referências que dão
uma forte base de sustentação a
uma narrativa que se envereda
pelas metáforas entre a fluidez
do líquido, a solidez da terra e a
transformação que ocorre no
encontro de ambos.
Ao longo dos ensaios fotográficos e da narrativa do curador,
a relação entre opostos se expande para as dicotomias entre
o dentro/fora, ocidente/oriente, eu/outro etc. Partindo da
obra "A Água e os Sonhos", de
Bachelard, Herkenhoff infere
que "toda cópia fotográfica é,
em certa instância, marca líquida" que se inscreve sobre superfície sólida. Toda cópia fotográfica encerra simbolicamente o encontro entre água e terra
para gerar um significante que
surge com a transformação gerada por esse embate.
O livro, em relação à exposição, surge muito mais encorpado. Além da introdução, Herkenhoff discute particularmente
os ensaios dos três artistas. Estes, por sua vez, ganham espaço
para um pequeno portfólio,
além do ensaio analisado, que
ajudam o leitor a entrar de forma mais aprofundada nas
questões estéticas de cada um.
A forma como Herkenhoff
consegue convocar e embaralhar referências díspares como
Clarice Lispector, Adriana Varejão, Marc Ferrez, Leonardo
da Vinci e Lygia Clark, por
exemplo, mantendo a coerência de seu discurso, e sem abrir
mão do devaneio poético e de
uma atitude libertária diante
de seu objeto, reflete o momento em que o pensador encontra
a solidez da história da arte para iluminá-la e expandi-la com
golpes de luz e poesia.
ONDE A ÁGUA ENCONTRA
A TERRA
Autor: Paulo Herkenhoff; fotografias de Carol Armstrong, Fernando
Azevedo e Leonardo Kossoy
Editora: G. Ermakoff Casa Editorial
Quanto: R$ 90 (228 págs.)
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