São Paulo, segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

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Livro analisa a diluição de fronteiras

Com textos de Paulo Herkenhoff e ensaios fotográficos, "Onde a Água Encontra a Terra" é desdobramento de exposição

A norte-americana Carol Armstrong e os brasileiros Fernando Azevedo e Leonardo Kossoy retratam relação de sólido com líquido


EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A poética do embate entre opostos é a tônica do recém-lançado livro "Onde a Água Encontra a Terra", com fotografias da norte-americana Carol Armstrong e dos brasileiros Fernando Azevedo e Leonardo Kossoy, base para um aprofundado estudo do curador Paulo Herkenhoff sobre a relação entre a imagem fotográfica e teorias da cultura e da arte.
Para além da água e da terra, a metáfora do encontro e da diluição de fronteiras se deu também entre os autores do livro, que decorreu de exposição homônima realizada no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio, no último mês de julho.
Armstrong é professora de história da arte e escreve na influente revista "October"; o carioca Azevedo, que vive há 20 anos nos EUA, é mestre em filosofia e curador, e Kossoy, formado em direito, atua com fotografia desde os anos 60.
Neste projeto, porém, todos colocaram em prática a verve artística, ainda que em alguns casos ela surja claramente a reboque de estudos acadêmicos, sobretudo, em Armstrong.
A curadoria de Herkenhoff tentou localizar pontualmente intersecções entre as obras dos três artistas para flagrar, dentro da perspectiva da história da arte e do pensamento de autores como Gaston Bachelard, Roland Barthes e Rosalind Krauss, referências que dão uma forte base de sustentação a uma narrativa que se envereda pelas metáforas entre a fluidez do líquido, a solidez da terra e a transformação que ocorre no encontro de ambos.
Ao longo dos ensaios fotográficos e da narrativa do curador, a relação entre opostos se expande para as dicotomias entre o dentro/fora, ocidente/oriente, eu/outro etc. Partindo da obra "A Água e os Sonhos", de Bachelard, Herkenhoff infere que "toda cópia fotográfica é, em certa instância, marca líquida" que se inscreve sobre superfície sólida. Toda cópia fotográfica encerra simbolicamente o encontro entre água e terra para gerar um significante que surge com a transformação gerada por esse embate.
O livro, em relação à exposição, surge muito mais encorpado. Além da introdução, Herkenhoff discute particularmente os ensaios dos três artistas. Estes, por sua vez, ganham espaço para um pequeno portfólio, além do ensaio analisado, que ajudam o leitor a entrar de forma mais aprofundada nas questões estéticas de cada um.
A forma como Herkenhoff consegue convocar e embaralhar referências díspares como Clarice Lispector, Adriana Varejão, Marc Ferrez, Leonardo da Vinci e Lygia Clark, por exemplo, mantendo a coerência de seu discurso, e sem abrir mão do devaneio poético e de uma atitude libertária diante de seu objeto, reflete o momento em que o pensador encontra a solidez da história da arte para iluminá-la e expandi-la com golpes de luz e poesia.


ONDE A ÁGUA ENCONTRA A TERRA
Autor: Paulo Herkenhoff; fotografias de Carol Armstrong, Fernando Azevedo e Leonardo Kossoy
Editora: G. Ermakoff Casa Editorial
Quanto: R$ 90 (228 págs.)



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