São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

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MÚSICA

Grupo surpreende em seu disco de estréia, "Nadadenovo", mesclando ritmos como indie rock, dub, reggae e samba

Mombojó reforça pop de Pernambuco

ALEXANDRE MATIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Enquanto a Nação Zumbi se consolida como o principal grupo musical do Brasil e Fred 04 confirma seu Mundo Livre S/A como a mais importante banda de protesto na ativa no país, Pernambuco continua uma usina orgânica de produção musical pop.
Seguindo a curva ascendente que gerou novas pedras fundamentais para a música do Estado (os shows do Cordel do Fogo Encantado, "Olinda Original Style", do grupo Eddie, e "BSC", do Bonsucesso Samba Clube), o septeto adolescente Mombojó crava mais um degrau na escalada, com seu surpreendente disco de estréia, "Nadadenovo", lançado pela própria banda.
Na ativa desde 2000, o grupo não faz muita distinção entre gêneros musicais, formatos pré-estabelecidos de canção e jam sessions. Na mistura, reggae, MPB, pós-rock, indie rock, dub, samba. Na formação, teclados, escaleta, samplers, cavaco, violão, flauta, baixo, guitarra e bateria. No comando dos instrumentos, sete jovens cuja idade média não passa dos 20 anos. Apesar de ser uma banda adolescente, o som passa longe dos clichês reverberados pela publicidade do gênero.
"A gente cresceu junto com a música independente no Brasil", explica o vocalista Felipe. "Nosso CD é assim, a gente fez o que quis da capa à escolha do repertório e a forma de tocar. Usamos toda a liberdade que a gente podia: isso é independente!" O grau de envolvimento com os novos formatos que a música mundial aos poucos assume mostra a sintonia do grupo com seu tempo: além de lançado no formato tradicional, o disco pode ser baixado no site do grupo, www.mombojo.com.br.
Mais do que isso: "A gente está pensando em colocar os arquivos de várias músicas no site pra quem quiser fazer download e remixar, na linha do conceito de "generosidade intelectual" defendida pelo pessoal do Re:Combo", continua Felipe. O produtor H.D. Mabuse, idealizador do grupo de criação em rede citado pelo vocalista, foi o primeiro a remixar uma música do Mombojó, "A Missa".
"Nadadenovo", gravado em 2003, contou com a presença do baixista da Nação Zumbi, Dengue, em uma das faixas ("Estático"), "porque ele é uma das pessoas que a gente gostaria que produzisse nosso CD", explica Felipe, listando outros produtores que admira: Arto Lindsay, Apollo 9, Ry Cooder e Nigel Godrich.
"Mas a gente gosta mesmo é de chamar gente que não é músico: chamamos meu irmão e irmã de três e cinco anos pra gravar vozes, uma galera grande pra fazer coro", lembra o vocalista, Tiago Andrade, que gravou viola de arco na faixa "Absorva", esqueceu o celular ligado numa das gravações e recebeu uma chamada, explicando o ruído incômodo na canção.
É nesse clima de entropia sonora que "Nadadenovo" se move -refrões inesperados, andamentos chapados, grooves cuja malemolência tende à paranóia ou à anestesia química. Efeitos sonoros se confundem com dramas amorosos, graves espetaculares chocam-se improvisos jazzísticos, cada músico indo para um lado, e é justamente essa disparidade de papéis no grupo que dá a surpreendente -e madura- unidade sonora do grupo.
Atirando em frentes diferentes e não-ortodoxas, no entanto, não transforma o Mombojó em uma banda "difícil", como uma definição dessas pode supor. Pelo contrário: faz parte de um crescendo que move a nova música brasileira como um todo -pop e experimental, orgânica e digital, zen e paranóica, politizada e hedonista.


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