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MÚSICA
Grupo surpreende em seu disco de estréia, "Nadadenovo", mesclando ritmos como indie rock, dub, reggae e samba
Mombojó reforça pop de Pernambuco
ALEXANDRE MATIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Enquanto a Nação Zumbi se
consolida como o principal grupo
musical do Brasil e Fred 04 confirma seu Mundo Livre S/A como a
mais importante banda de protesto na ativa no país, Pernambuco
continua uma usina orgânica de
produção musical pop.
Seguindo a curva ascendente
que gerou novas pedras fundamentais para a música do Estado
(os shows do Cordel do Fogo Encantado, "Olinda Original Style",
do grupo Eddie, e "BSC", do Bonsucesso Samba Clube), o septeto
adolescente Mombojó crava mais
um degrau na escalada, com seu
surpreendente disco de estréia,
"Nadadenovo", lançado pela própria banda.
Na ativa desde 2000, o grupo
não faz muita distinção entre gêneros musicais, formatos pré-estabelecidos de canção e jam sessions. Na mistura, reggae, MPB,
pós-rock, indie rock, dub, samba.
Na formação, teclados, escaleta,
samplers, cavaco, violão, flauta,
baixo, guitarra e bateria. No comando dos instrumentos, sete jovens cuja idade média não passa
dos 20 anos. Apesar de ser uma
banda adolescente, o som passa
longe dos clichês reverberados
pela publicidade do gênero.
"A gente cresceu junto com a
música independente no Brasil",
explica o vocalista Felipe. "Nosso
CD é assim, a gente fez o que quis
da capa à escolha do repertório e a
forma de tocar. Usamos toda a liberdade que a gente podia: isso é
independente!" O grau de envolvimento com os novos formatos
que a música mundial aos poucos
assume mostra a sintonia do grupo com seu tempo: além de lançado no formato tradicional, o disco
pode ser baixado no site do grupo, www.mombojo.com.br.
Mais do que isso: "A gente está
pensando em colocar os arquivos
de várias músicas no site pra
quem quiser fazer download e remixar, na linha do conceito de
"generosidade intelectual" defendida pelo pessoal do Re:Combo",
continua Felipe. O produtor H.D.
Mabuse, idealizador do grupo de
criação em rede citado pelo vocalista, foi o primeiro a remixar uma
música do Mombojó, "A Missa".
"Nadadenovo", gravado em
2003, contou com a presença do
baixista da Nação Zumbi, Dengue, em uma das faixas ("Estático"), "porque ele é uma das pessoas que a gente gostaria que produzisse nosso CD", explica Felipe,
listando outros produtores que
admira: Arto Lindsay, Apollo 9,
Ry Cooder e Nigel Godrich.
"Mas a gente gosta mesmo é de
chamar gente que não é músico:
chamamos meu irmão e irmã de
três e cinco anos pra gravar vozes,
uma galera grande pra fazer coro", lembra o vocalista, Tiago Andrade, que gravou viola de arco na
faixa "Absorva", esqueceu o celular ligado numa das gravações e
recebeu uma chamada, explicando o ruído incômodo na canção.
É nesse clima de entropia sonora que "Nadadenovo" se move
-refrões inesperados, andamentos chapados, grooves cuja malemolência tende à paranóia ou à
anestesia química. Efeitos sonoros se confundem com dramas
amorosos, graves espetaculares
chocam-se improvisos jazzísticos,
cada músico indo para um lado, e
é justamente essa disparidade de
papéis no grupo que dá a surpreendente -e madura- unidade sonora do grupo.
Atirando em frentes diferentes e
não-ortodoxas, no entanto, não
transforma o Mombojó em uma
banda "difícil", como uma definição dessas pode supor. Pelo contrário: faz parte de um crescendo
que move a nova música brasileira como um todo -pop e experimental, orgânica e digital, zen e
paranóica, politizada e hedonista.
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