São Paulo, sexta, 30 de janeiro de 1998

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Público queria matar o autor

da Reportagem Local

"Foi um choque geral. Houve até invasão do palco por algumas pessoas do público, que queriam matar o autor". Assim, o ator Renato Borghi, no intervalo dos ensaios de "Tio Vânia", de Tchekov, descreve as primeiras reações do público às exibições do "Rei da Vela", em 1967. Oswald de Andrade nasceu em 1890 e morreu em 1954.
"Havia um silêncio desagradavelmente longo ao final das primeiras apresentações, para depois surgir uma reação hiperpositiva. A crítica ficou um tempo com o pé atrás, sem saber se aquilo era muito bom ou muito ruim", diz ele.
Borghi rememora o impulso que resultou no "Rei da Vela" de 67: "Queríamos encontrar um autor que expressasse o nosso momento de furor criativo, não só a vontade de lutar contra a ditadura."
Já na temporada dos "Pequenos Burgueses" os integrantes do Oficina iam percebendo que os personagens se abrasileiravam, à medida que a peça amadurecia: "Passamos então a estudar como anda o cara que pega o ônibus, como é a dona-de-casa, que tipo de deformação corporal ele tem. Foi uma coisa de meses", diz Borghi.
O uso da chanchada e da estética do mau gosto pelo Oficina foi feita de forma crítica, pós-brechtiana e distanciada. O sucesso também era impulsionado pela situação conjuntural.
Naquele momento, o teatro estava numa posição de ponta-de-lança cultural, cercado de expectativas. No centro do furacão, havia um grupo de atores, segundo Borghi: "O Oficina era uma espécie de Rolling Stones. A gente armava a barraca e enchia de gente". (MVS)


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