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Ator diverge da ministra sobre racismo "natural"
DA REPORTAGEM LOCAL
O racismo, um dos temas do filme "Ó Paí, Ó",
tem sua abordagem mais
explícita numa cena entre
os atores (e grandes amigos fora das telas) Lázaro
Ramos e Wagner Moura.
O branco Boca (Moura)
agride o negro Roque (Ramos) com ofensas de teor
racista, depois que os dois
têm um desentendimento
num assunto comercial. O
duelo verbal entre ambos
é um dos pontos centrais
do longa de Monique Gardenberg, em que Ramos
enxerga uma "provocação
à discussão racial".
O ator, que trata sistematicamente da questão
em seu programa "Espelho", no Canal Brasil, diz
que "os protagonistas de
"Ó Paí, Ó" seriam coadjuvantes em outro filme".
A estréia de "Ó Paí, Ó"
ocorre na semana em que
a ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria Especial
de Política da Promoção
da Igualdade Racial, disse
ser "natural" a discriminação de negros contra brancos. "Natural nunca acharei que o preconceito é,
mas é compreensível de
onde ele vem", diz Ramos.
O ator afirma que "vivemos num país desigual e
um dos traços dessa desigualdade tem relação com
essa cor, essa tez. Basta entrar numa favela para ver
que a maioria da população ali é negra. O mesmo
ocorre nos presídios".
Ramos ressalva que desconhece "o contexto" da
frase da ministra. "Talvez,
o "natural" a que ela se refira venha daí, porque, uma
hora, isso naturalmente se
torna incômodo".
Para Gardenberg, "essa
autorização [ao preconceito] já é um retrato de uma
sociedade racista". A cineasta afirma que "a mistura está na base da nossa
história, da formação do
povo brasileiro, da nossa
cultura, e essa declaração
contraria o que temos de
mais notável".
(SA)
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