São Paulo, sexta-feira, 30 de março de 2007

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Ator diverge da ministra sobre racismo "natural"

DA REPORTAGEM LOCAL

O racismo, um dos temas do filme "Ó Paí, Ó", tem sua abordagem mais explícita numa cena entre os atores (e grandes amigos fora das telas) Lázaro Ramos e Wagner Moura.
O branco Boca (Moura) agride o negro Roque (Ramos) com ofensas de teor racista, depois que os dois têm um desentendimento num assunto comercial. O duelo verbal entre ambos é um dos pontos centrais do longa de Monique Gardenberg, em que Ramos enxerga uma "provocação à discussão racial".
O ator, que trata sistematicamente da questão em seu programa "Espelho", no Canal Brasil, diz que "os protagonistas de "Ó Paí, Ó" seriam coadjuvantes em outro filme".
A estréia de "Ó Paí, Ó" ocorre na semana em que a ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria Especial de Política da Promoção da Igualdade Racial, disse ser "natural" a discriminação de negros contra brancos. "Natural nunca acharei que o preconceito é, mas é compreensível de onde ele vem", diz Ramos.
O ator afirma que "vivemos num país desigual e um dos traços dessa desigualdade tem relação com essa cor, essa tez. Basta entrar numa favela para ver que a maioria da população ali é negra. O mesmo ocorre nos presídios".
Ramos ressalva que desconhece "o contexto" da frase da ministra. "Talvez, o "natural" a que ela se refira venha daí, porque, uma hora, isso naturalmente se torna incômodo".
Para Gardenberg, "essa autorização [ao preconceito] já é um retrato de uma sociedade racista". A cineasta afirma que "a mistura está na base da nossa história, da formação do povo brasileiro, da nossa cultura, e essa declaração contraria o que temos de mais notável". (SA)


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