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Cibele Forjaz desdobra Dostoiévski
Diretora monta "O Idiota"; com mais de 7 horas de duração, peça é dividida em três partes, encenadas na mesma semana
Adaptação do texto do autor russo reúne atores de diferentes companhias, como Teatro Oficina, Teatro da Vertigem e Cia. Livre
MARIA EUGÊNIA DE MENEZES
DA REVISTA DA FOLHA
Cibele Forjaz, 43, anda dormindo pouco. Não mais do que
quatro horas por noite. A maratona diária, ela conta, não poupa fins de semana, começa logo
de manhã e costuma se estender pela madrugada.
São ensaios de atores, testes
de luz, ajustes de cenário, 30
pessoas trabalhando sem parar
para deixar tudo pronto para a
estreia de "O Idiota", uma versão da obra de Dostoiévski que
a diretora apresenta a partir de
hoje, no Sesc Pompeia.
O desejo de transportar o
monumental romance para o
palco é antigo. Começou a adquirir forma há cerca de dois
anos, quando Aury Porto, Luah
Guimarãez e Vadim Nikitin,
responsáveis pela dramaturgia,
colocaram em prática o projeto
de adaptação. Mas foi só em janeiro deste ano que os planos
ganharam, de fato, contorno na
encenação de Cibele Forjaz.
As mais de 700 páginas do romance foram convertidas em
sete horas de espetáculo, divididas em três partes e apresentadas em dias diferentes. "É um
"tour de fource", uma imensa
gincana", diz a diretora.
Mas não é apenas na duração
que "O Idiota" assume ares
grandiloquentes. Não bastassem o tamanho e a complexidade do romance, a montagem
também se lança à intricada tarefa de reunir atores de diferentes companhias.
Nomes de conhecidos coletivos paulistanos, como Teatro
Oficina, Teatro da Vertigem e
Cia. Livre, misturaram-se para
pôr de pé a empreitada.
Em um emaranhado de tramas, o autor russo tece uma série de reflexões sobre a religião,
a fé e a moral. "Mas não vá escrever que a peça é sobre isso",
pede Cibele. "Porque o público
vai achar que é uma coisa chata, que não tem história, ação."
De fato, história é o que não
falta a "O Idiota". Enquanto
pontua questões filosóficas, a
obra também carrega no tom
folhetinesco e vem pontilhada
de mistério, humor e romance.
Em linhas gerais, o enredo
trata de Míchkin, um príncipe
que, depois de passar vários
anos na Suíça tratando-se de
epilepsia, retorna à Russia para
encontrar uma parenta distante. Rapidamente, ele consegue
cativar a simpatia de todos, mas
seu caráter excessivamente
bondoso é visto como sintoma
de idiotia e cria-lhe uma série
de problemas. Algo que o aproxima um pouco das agruras de
Dom Quixote e de Jesus Cristo.
Outra questão a nortear a
adaptação foi a preocupação
em expor a subjetividade dos
personagens, lembra Aury Porto, que, além de assinar o roteiro adaptado, encarna também
o protagonista. "Se ficássemos
só no plano da história, não teríamos como expressar a polifonia do livro."
Para dar conta dessa pretensão, a diretora manteve seu estilo e criou um constante jogo
com o público, que percorre a
sala de espetáculo atrás do
elenco. "Hoje, quando tudo é
feito à distância, o sentido do
teatro passou a ser o encontro
com a plateia. Nada disso é trivial. Sair de casa e ver uma peça
que acontece em três dias é
uma escolha. Ninguém sai ileso
dessa travessia." Cibele, insone
há quatro meses, que o diga.
O IDIOTA - UMA NOVELA
TEATRAL
Quando: estreia hoje, às 20h; 1ª parte,
ter. e sex., às 20h; 2ª parte, qua., às 20h
e sáb., às 19h; 3ª parte, qui., às 20h e
dom., às 19h (não haverá sessão nesta
sexta); até 9/5
Onde: Sesc Pompeia - galpão (r. Clélia,
93, tel. 0/xx/11/3871-7700)
Quanto: R$ 4 a R$ 16
Classificação: 14 anos
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