São Paulo, terça-feira, 30 de abril de 2002

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Catadora de papel critica peso de carrinho

Raphael Falavigna/Folha Imagem
A catadora de papel Joyce Ribeiro, que usa obra de Wodiczko


FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um pouco desajeitada com o veículo que pouco se assemelha a seu carrinho de tração humana construído com pedaços de madeira, a catadora de papel Joyce Ribeiro, 31, cinco filhos e sete anos de profissão, conduz em um test-drive o trabalho que o artista polonês Krzysztof Wodiczko, 59, desenvolveu para o artecidadezonaleste.
Wodiczko desenha o que chama de "veículos críticos", destinados a migrantes, camelôs e sem-teto.
Para o artecidadezonaleste, o polonês, que trabalha no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), nos EUA, pesquisou o universo dos catadores de papel para produzir um veículo adaptado a eles em parceria com o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo) e com o artista Ary Perez, 48, que também participa da mostra como coordenador e com outro trabalho individual.
O resultado é um carrinho todo em aço com breque e lonas que cobrem o material recolhido na caçamba e o "motorista" do veículo. O catador conta com um cinto preso ao quadril capaz de distribuir o esforço da tração dos braços para o restante do corpo calejado.
A carroça hi-tech conta ainda com um compartimento interno onde é possível dormir no melhor estilo cosmopolita: enclausurado.
Durante o test-drive do veículo de Wodiczko, Joyce garantiu que é capaz de dormir ali dentro com toda a sua família. Mas, como especialista no ofício de arrastar quilos de papelão ladeira acima, achou que ele está pesado demais. "O carrinho tem lugar para os meus filhos e para o lixo de onde tiro o sustento deles. Só que pesa demais e treme muito."
Enquanto os carrinhos em madeira pesam pouco mais de 100 quilos, o protótipo atinge 250 quilos. "A próxima versão deve ficar com 100 quilos. Também pretendemos inserir um motor elétrico que recarregue nas descidas", explica Perez.
Com a versão aperfeiçoada do veículo crítico de Wodiczko, Joyce teria mais conforto, segurança e visibilidade. Mas continuaria ganhando os mesmos R$ 100 por semana que consegue com seu carrinho comum, feito do lixo que ninguém quer.


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