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Crítica/"Maratona do Amor"
Comédia estaciona na reverência a convenções morais
Produção comandada por ex-astro da série "Friends" tem
ritmo ágil e piadas funcionais, mas déficit de transgressão
PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Não é rara a comédia
que bagunça as regras
sem romper com a reverência às convenções. Por
outro lado, são verdadeiros trevos de quatro folhas os filmes
cômicos que levam a cabo a
transgressão total, que está em
alguns exemplos da atual (e
atuante) geração de comediantes do cinema americano.
E há os meios termos, como
"Os Simpsons", de humor e
imagens mordazes mas, no final, defendendo a sagrada família americana. E filmes como
este "Maratona do Amor", que
copia algo da caligrafia da comédia de ponta, mas sem transtornar certas visões de mundo.
Neste filme de David
Schwimmer, rodado em Londres, mas com pegada típica das
comédias americanas, temos
Dennis Doyle (Simon Pegg),
que, apavorado, abandona a
noiva, Libby (Thandie Newton), no altar -e grávida.
Longe de ser a postura mais
louvável, claro, mas quem não
faria o mesmo vendo o circo de
loucos que são os casamentos
(ou, pelo menos, é o que sugere
o filme em seu início)?
O filme mostrará Dennis,
cinco anos mais tarde, bastante
deslocado, típico "loser", sem
grana, solteiro e encarnando
um pai meio apatetado, mas
muito chapa com seu molequinho. O namoro da ex-noiva
com um galã bem-sucedido e
romântico deixará Dennis
transtornado, uma vez que ele
só não se casou por medo.
Assim, a grande questão do
longa será Dennis enfrentar os
problemas de frente, ter perseverança e tal (um resumo de
uma cartilha protestante). A
ilustração dessa missão do protagonista estará numa maratona de 42 km, prova total de resistência e determinação que
pode ser uma epopéia para um
barrigudo mirrado.
Essa defesa (quase fascista)
de valores apolíneos não deve
ser levada em conta aqui, uma
vez que os ideais que merecem
atenção num filme são os cinematográficos. Nisso, "Maratona" segue a cartilha da convenção, e, mesmo sem azucrinar mandamentos do gênero, adota
um cinema ágil e bem aplicado.
Um exemplo está na montagem que, mantendo um ritmo
impecável nas piadas (bastante
convencionais, mas funcionais), faz com que uma elipse
temporal aconteça por meio de
um único corte entre duas imagens de Dennis -correndo do
casamento e depois perseguindo um travesti que furtou um
sutiã da loja onde trabalha.
Algo convencional, se pensarmos que Kubrick fez o mesmo em 1968, com "2001 - Uma
Odisséia no Espaço". Mas que
faz pensar que, se essa boa comédia seguisse outras convenções que não as morais (as do
cinema), seria mais afiada.
MARATONA DO AMOR
Produção: Inglaterra, 2007
Direção: David Schwimmer
Com: Simon Pegg, Hank Azaria
Onde: em cartaz nos cines Bristol,
Iguatemi Playarte e circuito
Avaliação: regular
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