São Paulo, quarta-feira, 30 de abril de 2008

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Crítica/"Maratona do Amor"

Comédia estaciona na reverência a convenções morais

Produção comandada por ex-astro da série "Friends" tem ritmo ágil e piadas funcionais, mas déficit de transgressão

PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Não é rara a comédia que bagunça as regras sem romper com a reverência às convenções. Por outro lado, são verdadeiros trevos de quatro folhas os filmes cômicos que levam a cabo a transgressão total, que está em alguns exemplos da atual (e atuante) geração de comediantes do cinema americano.
E há os meios termos, como "Os Simpsons", de humor e imagens mordazes mas, no final, defendendo a sagrada família americana. E filmes como este "Maratona do Amor", que copia algo da caligrafia da comédia de ponta, mas sem transtornar certas visões de mundo.
Neste filme de David Schwimmer, rodado em Londres, mas com pegada típica das comédias americanas, temos Dennis Doyle (Simon Pegg), que, apavorado, abandona a noiva, Libby (Thandie Newton), no altar -e grávida.
Longe de ser a postura mais louvável, claro, mas quem não faria o mesmo vendo o circo de loucos que são os casamentos (ou, pelo menos, é o que sugere o filme em seu início)?
O filme mostrará Dennis, cinco anos mais tarde, bastante deslocado, típico "loser", sem grana, solteiro e encarnando um pai meio apatetado, mas muito chapa com seu molequinho. O namoro da ex-noiva com um galã bem-sucedido e romântico deixará Dennis transtornado, uma vez que ele só não se casou por medo.
Assim, a grande questão do longa será Dennis enfrentar os problemas de frente, ter perseverança e tal (um resumo de uma cartilha protestante). A ilustração dessa missão do protagonista estará numa maratona de 42 km, prova total de resistência e determinação que pode ser uma epopéia para um barrigudo mirrado.
Essa defesa (quase fascista) de valores apolíneos não deve ser levada em conta aqui, uma vez que os ideais que merecem atenção num filme são os cinematográficos. Nisso, "Maratona" segue a cartilha da convenção, e, mesmo sem azucrinar mandamentos do gênero, adota um cinema ágil e bem aplicado.
Um exemplo está na montagem que, mantendo um ritmo impecável nas piadas (bastante convencionais, mas funcionais), faz com que uma elipse temporal aconteça por meio de um único corte entre duas imagens de Dennis -correndo do casamento e depois perseguindo um travesti que furtou um sutiã da loja onde trabalha.
Algo convencional, se pensarmos que Kubrick fez o mesmo em 1968, com "2001 - Uma Odisséia no Espaço". Mas que faz pensar que, se essa boa comédia seguisse outras convenções que não as morais (as do cinema), seria mais afiada.


MARATONA DO AMOR
Produção:
Inglaterra, 2007
Direção: David Schwimmer
Com: Simon Pegg, Hank Azaria
Onde: em cartaz nos cines Bristol, Iguatemi Playarte e circuito
Avaliação: regular


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