São Paulo, sábado, 30 de abril de 2011 |
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CRÍTICA ROMANCE Obra reflete Europa atual construindo o seu passado JOCA REINERS TERRON ESPECIAL PARA A FOLHA Andrés Neuman demonstrou sua competência narrativa (ou talento, se preferirem) desde seu primeiro romance, "Bariloche" (1999), publicado quando o autor tinha 22 anos de idade. A narrativa impressionava pelo conhecimento que o escritor mal saído das fraldas exibia acerca de temas normalmente alheios à juventude: adultério, miséria e deterioração, entre outras desgraças. Curiosamente, "O Viajante do Século", último romance de Neuman, coloca-se nas antípodas do livro de estreia. "Bariloche", por meio de Demetrio Rota, um lixeiro obcecado por quebra-cabeças e pela reconstrução de sua própria vida, relata a decadência de Buenos Aires -antecipando a crise financeira de 2002-, e a pobreza da cidade adquire um caráter claustrofóbico. Por metonímia, Buenos Aires representa, por extensão, toda a América Latina. Em "O Viajante do Século" o substrato é, ao contrário, a construção da Europa moderna. Hans é um viajante do século 19 que apea na cidade fictícia de Wandernburgo com a intenção de permanecer somente alguns dias. As muralhas que a cercam sugerem que talvez seja mais fácil entrar do que sair. É isso o que acontece. Personagens surgem aos montes, entre eles um velho tocador de realejo que habita uma gruta nos arredores, cuja sabedoria em relação à vida seduz Hans. EFICÁCIA Ele é novamente seduzido por Sophie, bela feminista "avant la lettre" pertencente a uma nobre família da cidade e noiva de Wilderhaus. E pronto, está montado um esquema narrativo tão antigo (e eficaz) quanto a Bíblia: o triângulo amoroso. O adultério é parte significativa da trama desse romance transbordante de ideias. Sophie organiza tertúlias semanais que pontuam a história, narrada em conversas de salão sobre política europeia pós-Congresso de Viena e nos embates filosóficos. A ambição de "O Viajante do Século" é a de um romance total que reflita por meio do passado os problemas da Europa atual, façanha literária obtida por Neuman com segurança e imaginação. JOCA REINERS TERRON é autor de "Sonho Interrompido por Guilhotina" (Casa da Palavra). O VIAJANTE DO SÉCULO AUTOR Andrés Neuman EDITORA Alfaguara TRADUÇÃO Maria Paula Gurgel Ribeiro QUANTO R$ 55 (455 págs.) AVALIAÇÃO ótimo Texto Anterior: Neuman sabota gênero histórico em livro Próximo Texto: Crítica/Romance: "Zeitoun" é fundamental para entender eventos pós-Katrina Índice | Comunicar Erros |
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