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Filmar com Brad Pitt não foi fácil, diz Iñárritu
Cineasta, prêmio de direção em Cannes, comenta relação com o astro em "Babel"
Diretor mexicano começa
a preparar seu próximo
filme, um monólogo sobre
um homem solitário
em seu apartamento
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A CANNES
O mexicano Alejandro González Iñárritu saiu do Festival
de Cannes, anteontem, como o
melhor diretor, por "Babel",
que estava cotado pela crítica
para a Palma de Ouro -entregue ao inglês Ken Loach ("The
Wind that Shakes the Barley").
"É mais do que eu podia sonhar", disse Iñárritu. Na quarta
passada, ele recebeu a Folha e
outros cinco jornalistas estrangeiros para a entrevista a seguir, em que fala de "Babel" e
de Brad Pitt, astro do filme.
Pitt não foi a Cannes porque
aguardava Shiloh Jolie-Pitt,
sua filha com a atriz Angelina
Jolie, que nasceu no sábado.
PERGUNTA - Por que quis Brad Pitt
no papel do turista cuja mulher é
atacada no Marrocos e os filhos se
perdem no México?
ALEJANDRO GONZÁLEZ IÑÁRRITU -
Gosto da idéia de ter uma celebridade numa situação tão extrema que as pessoas esqueçam
que estão vendo Brad Pitt. Conseguir isso era tentador.
PERGUNTA - Era seu único objetivo ao
contratar um astro?
IÑÁRRITU - Com seu carisma,
Pitt me ajudou a achar pessoas
que nunca estariam no filme.
Ele tem esse raro poder das estrelas para atrair pessoas. Pensando nele como um ícone da
sociedade americana, era uma
idéia desafiadora colocá-lo naquela situação.
PERGUNTA - O que ele disse sobre
ficar grisalho e com rugas?
IÑÁRRITU - Ele estava disposto a
isso. Era um projeto arriscado
para ele. Não ganharia o que em
geral ganha, as filmagens seriam desconfortáveis e difíceis
e, quando filmamos, ele atravessava um período difícil em
sua vida pessoal [a separação da
atriz Jennifer Aniston]. Mas ele
se desafiou a fazer algo anormal
para ele e confiou em mim.
PERGUNTA - Como foi a relação de
vocês nas filmagens?
IÑÁRRITU - Boa e intensa. As filmagens não foram fáceis nem
para ele nem para mim. Ele foi
melhorando a cada dia. No final, estava de fato no papel. A
última cena que filmamos é a
do telefone, em que ele fala com
o filho. Ali, ele é o [personagem]
Richard. Pitt aparece só 26 minutos, e parece ser muito mais.
É o poder de um ator.
PERGUNTA - Qual será seu próximo
filme?
IÑÁRRITU - Não gosto de falar
antes. Só com o filme pronto.
PERGUNTA - Algo com começo,
meio e fim, nesta ordem?
IÑÁRRITU - É o mais fácil para mim,
mas espero um dia fazer algo
em ordem cronológica.
PERGUNTA - Qual foi seu ponto de
partida em "Babel"?
IÑÁRRITU - Estou fora do meu
país há cinco anos [vive em Los
Angeles], tenho viajado muito.
Em "Babel", estão em cidades
que adoro, culturas que me interessam, problemas de fronteira entre meu país e os Estados Unidos, o tema do preconceito em relação aos muçulmanos.
Ser muçulmano não significa
ter algo a ver com terrorismo.
Mas os norte-americanos estão
expostos a uma mídia que generaliza a imagem dos muçulmanos como uma ameaça em
potencial.
Meu filme não é político, mas
não se pode negar que tudo que
fazemos hoje é afetado pelo
momento político: quando você pega um avião, quando viaja
para os EUA, o medo está impregnado. E isso ocorre porque
as fronteiras reais e as que criamos ideologicamente são terríveis. Não concordo, e preciso
me expressar.
PERGUNTA - O que fez durante o
Dia Sem Imigrantes, no mês passado, nos EUA?
IÑÁRRITU - Fui para a marcha.
Estava no meio da montagem
do filme, e os produtores ficaram loucos comigo porque fugi
durante quatro horas. Vi essa
imagem linda de 800 mil latinos com suas bandeiras. Não
foi uma coisa raivosa, mas entusiasmada.
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