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análise
Premiação surpreende em Cannes-2006
AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES
O conjunto dos premiados de Cannes
2006, encerrado anteontem, foi surpreendente e
heterodoxo, mas com certa
coerência interna. O veterano Ken Loach, pela oitava
vez na competição e pela 12ª
no festival, levou finalmente
sua Palma de Ouro por "The
Wind that Shakes the Barley" (O vento que balança a
cevada).
O filme devolve-o à melhor
forma, depois de um começo
de década menos inspirado.
Loach volta a câmera para
outra guerra civil. Depois da
espanhola ("Terra e Liberdade") e da nicaragüense ("A
Canção de Carla"), dramatiza o conflito anglo-irlandês
do início dos anos 20. Radiografa tanto a luta independentista como os traumas internos à causa irlandesa.
Com "Volver", Almodóvar
nos ofereceu seu filme mais
autobiográfico, centrado em
sua região natal, em La Mancha espanhola. É outro potente drama familiar feminino que vilaniza como nunca
a figura masculina. Um grande filme em chave baixa, contido e espetacularmente interpretado. Não surpreende,
assim, que tenha valido o
prêmio de conjunto para o
sexteto de atrizes encabeçado por Penélope Cruz e Carmen Maura. Já a atribuição
do prêmio de roteiro a Almodóvar parece mero gesto de
consolo.
As surpresas prosseguiram com o Grande Prêmio
do Júri para "Flandres", do
francês Bruno Dumont, uma
alegoria antibelicista parcialmente inspirada por
"Nascido para Matar", de
Kubrick. Premiou-se aqui
sobretudo o cinema de artifício caro a Wong Kar-wai.
Soou como tapinha nas
costas, atribuído por um júri
conflitado, o tímido prêmio
de melhor diretor ao mexicano Alejandro González Iñárritu. Rodado em três continentes, combinando astros
como Brad Pitt e Gael García
Bernal a atores não-profissionais, é um poderoso afresco sobre a incomunicabilidade e o desarmamentismo.
Um segundo prêmio de
conjunto de interpretação,
para os cinco atores protagonistas de "Indigènes", de Rachid Bouchareb, no papel de
argelinos e marroquinos que
lutaram pela libertação da
França ainda colonialista
sob jugo alemão, destaca um
belo filme com forte e atual
mensagem integracionista e
anticolonial numa França
hoje sacudida pela nova legislação antiimigratória encaminhada pelo ministro do
interior Nicolas Sarkozy.
Por fim, a britânica Andrea
Arnold levou o Prêmio do
Júri com "Red Road", ainda
segundo o presidente do júri,
devido ao "grande feito para
um filme de estréia". Selecionar Arnold foi abrir mão de
lembrar, por exemplo, outra
bela fábula sobre excluídos,
do finlandês Aki Kaurismäki,
"Lights in the Dusk". Não há
Cannes sem injustiças.
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