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Crítica
Doris Day tira do limbo idéia de partilha
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Os filmes típicos de Doris
Day e Rock Hudson são normalmente muito bobos. Já na
época em que foram lançados,
serviam a um público conservador. Hoje em dia, então, nem
se fala.
Abra-se, no entanto, exceção
para "Confidências à Meia-Noite" (Film & Arts, 20h), em
que eles são dois seres que se
odeiam e partilham, sem saber,
uma linha telefônica.
A idéia de partilhar uma linha é que é fascinante. Pois cada vez menos partilhamos
qualquer coisa. Usamos insulfilm nos carros para passar incógnitos, muramos nossas casas. Não existe mais essa instituição tão importante para a
sociabilidade que era o televizinho. Quanto ao telefone, nem
se fala: agora cada um, em sua
casa, tem seu celular e não precisa haver partilha nem no ambiente familiar.
O mundo se configura cada
vez mais a partir do enclausuramento. Os meios comunicantes rompem esse isolamento
-mas não os corpos. Marcola e
o PCC compreenderam bem
sua natureza.
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