São Paulo, domingo, 30 de maio de 2010 |
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VANESSA VÊ TV VANESSA BARBARA - vanessa.barbara@uol.com.br O melodrama das questões vernáculas
A JULGAR pela nossa teledramaturgia, o uso do subjuntivo é bem difundido entre os brasileiros. Emprega-se com grande espontaneidade o futuro não composto: em "Ribeirão do Tempo" (Record), um senador diz que o filho "não verá" algo. Ele desabafa: "Não suporto essa sua cara de deboche infindável", o que soa muito natural. O filho responde: "Pode perder as esperanças, coroa". Na trama, xinga-se com pungência, diz-se que Fulano é catastrofista e bobalhão. Os personagens argumentam como num romance de cavalaria, a exemplo da loira que pondera ao namorado: "Sem dúvida, mas o que eu quis ressaltar é que...". Quando alguém usa a palavra "inexpugnável", a mocinha cai de amores. Quase no mesmo horário, na Globo, um uso acentuado de ênclises encheria de orgulho o velho gramático Napoleão Mendes de Almeida: "Meta-se com o seu casamento e deixe o meu em paz", grita uma das mocinhas de "Passione", no auge do rancor. A atilada utilização pronominal não cessa nem nos momentos mais difíceis, como quando a jovem noiva indecisa pede: "Será que você pode nos deixar a sós?"". No campo das ofensas, os arroubos léxicos atravessam oceanos ("maledeto!", "porca miséria!") e gerações -uma certa personagem é "tinhosa", o marido traidor é "indecente". Também é possível pensar em voz alta utilizando a construção: "Eu tenho que tirar essa mulher da minha cabeça". Em "Uma Rosa com Amor" (SBT), nem adolescentes fogem à correção. Tomados por um ímpeto sintático impecável, personagens se referem "à pobre da magricelinha da Miriam", e observam: "Não me enfeze, porque eu posso acabar perdendo as estribeiras". Conjuga-se muito bem no horário nobre. Texto Anterior: Canais abertos farão piadas na África do Sul Próximo Texto: Coleção destaca marchas de Braguinha Índice |
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