|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/samba-rock
Jair Oliveira se rende ao samba em "Simples"
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Havia sambas nos outros
quatro CDs de Jair Oliveira,
mas eles ficaram ofuscados pelas baladas e, principalmente,
pelos efeitos eletrônicos. Agora, em "Simples", o herdeiro de
Jair Rodrigues comprova que é
filho de peixe e faz um disco em
que o samba é o protagonista.
"Chegou um momento de
volta às raízes. Acho que é um
amadurecimento. O fato de ter
produzido o "Estudando o Pagode", do Tom Zé, me levou a
querer fazer um disco mais brasileiro", explica Jair, 31.
Foi em 2004 que ele trabalhou com Tom Zé e começou a
compor novos sambas, inclusive "Simples", uma narrativa
irônica sobre as "facilidades"
do amor ("É simples como ler
"Ulisses" todo de uma vez"). A
palavra-título virou o conceito
da sonoridade do CD: pouco
instrumento, sem computador.
Menos é mais
"Além de Tom Zé, aprendi
muito com meu pai, com Cesar
Camargo Mariano, com o
MPB-4, gente que defende
aquela idéia de que "menos é
mais". Quando eu era mais jovem, queria pôr tudo para fora,
achava que "menos é mais" é o
cacete. Com o tempo, a gente
vai aprendendo a falar melhor
sobre as coisas", diz ele.
Os "não-arranjos", como
classifica Jair por causa da simplicidade, foram criados em cima do trio violão-baixo-percussão. A escolha traz unidade
ao disco, que trafega por famílias diferentes do samba e chega até ao Nordeste na mistura
de xote com soul de "Eu Você".
"Nessa faixa, eu passeio por
Pernambuco e faço uma referência a Lenine", conta Jair,
que homenageia também João
Bosco, em "Braços de Iemanjá
-João na Roda de Capoeira".
O Nordeste ainda está discretamente presente em outro
samba, "Eu Também Tive um
Sonho", feito para a trilha de
"Os Desafinados", filme ainda
não lançado de Walter Lima Jr.,
no qual Jair participou como
ator no papel de um músico fascinado por Martin Luther King.
"Numa roda de samba/ Martin
Luther King tocava pandeiro",
conta a letra.
O subgênero mais presente é
o sambalanço -ou samba-rock,
para quem preferir. A animada
"Tiro Onda" já está ficando conhecida por fazer parte da trilha da novela "Cobras & Lagartos". "Pele" e "Sete e Meia"
também têm eficiência, mais
do que a presunçosa "O que
Pensam as Estrelas?".
Além de "Simples", destacam-se no CD "O Samba me
Contou", com uma boa abertura em clima de samba-de-roda,
e "Casa da Dor", samba-choro
que ganha uma levada funk na
segunda vez em que é cantada.
"Intacto" é daquelas baladas
que podem fazer sucesso e lembram outras já compostas por
Jair. Nada contra, mas com
"Simples" ele mostra que tem
munição para fazer coisas de
melhor nível no samba.
SIMPLES
Artista: Jair Oliveira
Gravadora: S de Samba
Quanto: R$ 23, em média
Texto Anterior: Death Cab for Cutie dá nome estranho ao emo Próximo Texto: Instituto mostra inéditas em show Índice
|