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Perlman coloca "Hellboy" no divã
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Sentado em um quarto de hotel
de onde se vê o rio Pinheiros, em
camisa de manga e bermudão, cabelo loiro cortado rente, Ron Perlman, 54, não se parece nem um
pouco com o demônio vermelho
e encapotado de 200 kg que interpreta em "Hellboy", nova adaptação das histórias em quadrinhos
que chega hoje ao país.
Até abrir a boca. "É um processo de quatro horas. Ao fim de tudo, com todos aqueles apliques
nos braços e no peito, você está fisicamente modificado e não consegue se sentir outra coisa a não
ser poderoso", contou o ator à Folha, com o mesmo tom de voz
grave característico que lhe rendeu diversos trabalhos em outras
adaptações de quadrinhos ("Blade 2"), ficção-científica ("Alien, a
Ressurreição") e seriados de TV
("Batman"). Ameaçador?
Não exatamente. Assim como o
monstrengo tirado pelo diretor
mexicano Guillermo del Toro das
páginas do gibi da editora Dark
Horse, terceira maior dos EUA,
Perlman se diz um romântico à
moda antiga, fã de filmes que retratem dilemas humanos.
"É pura coincidência o fato de
os diretores com que costumo
trabalhar gostarem de ficção e
HQs. Pessoalmente, não sou fã
dessas coisas. Prefiro os filmes sobre histórias de pequenas pessoas. "Cidade de Deus" foi um dos
melhores filmes do ano passado."
Assim, até que Del Toro conseguisse o último centavo necessário para levar o filme do personagem às telas de cinema, Perlman
tentou manter distância das revistinhas. "Não queria me envolver
emocionalmente com ele."
Resolvido o orçamento, aí sim
pôde mergulhar nas páginas góticas e ao mesmo tempo bem-humoradas da série desenhada por
Mike Mignola desde 1994 -e publicada no Brasil, pela editora
Mythos, desde 1998.
Melodramas à parte, o ator conta que teve de dar o sangue, literalmente, para enfrentar as muitas
seqüências de ação da produção.
Em uma delas, quando o herói
persegue seu principal inimigo, o
demônio Sammael, nos túneis do
metrô de Nova York, o ator teve
uma costela fraturada enquanto
tentava saltar para dentro de um
trem em movimento a 80 km/h.
"Estávamos fazendo a cena pela
sétima vez. Não tinha percebido a
gravidade do acidente, até que o
diretor de fotografia viu uma lágrima no meu olho e disse, "Ei, essa não é a hora em que Hellboy
tem que chorar!" Foi então que
percebi: Caramba, eu realmente
me ferrei desta vez!"
Enfim, como não há saúde que
resista a tanta pancadaria fora dos
quadrinhos, o jeito foi apelar para
os dublês. "Você não vai querer
fazer algo que possa colocar mais
em risco a sua segurança. De
qualquer forma, após quatro horas de maquiagem, não vai haver
um único demônio vermelho que
não se pareça com você."
Que ficasse com ele, contudo, a
cena em que o herói, depois de
enfrentar o inferno para salvá-la,
dá um beijo ardente na mocinha.
Apesar de secundária nos quadrinhos, Liz Sherman (Selma
Blair) tem um papel importante
no longa. Para usar um território
conhecido de Perlman, é a bela
que completa a vida da fera das
HQs. "Ela ajuda Hellboy a solucionar seu enigma pessoal", sugere o ator com um riso nos lábios.
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