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GASTRONOMIA
Ferran Adrià, do celebrado restaurante El Bulli, abre casa que serve hambúrgueres e fritas com qualidade
Chef catalão quer revolucionar fast food
DO "NEW YORK TIMES"
Ferran Adrià já foi classificado
como o mais imaginativo dos
chefs de cozinha. Em seu celebrado restaurante, El Bulli, na cidade
litorânea catalã de Rosas, Adrià,
42, inventou pratos como a paella
de sucrilhos com redução de frutos do mar, e purê de batatas aromatizado com baunilha e servido
com uma fava de baunilha, para
acentuar o aroma.
Agora, o chef catalão pretende
atingir um objetivo ainda maior
do que o aperfeiçoamento do ravióli líqüido ou a criação de uma
espuma para banho baseada em
caldo de legumes: a transformação do fast food em boa comida.
"Queria retribuir à sociedade
parte do que ela me deu", disse
Adrià em uma entrevista recente.
"Por isso, um dia comecei a pensar se não existiria um modo de
produzir fast food que fosse, ao
mesmo tempo, boa comida. É
uma idéia tão simples!"
Assim, Adrià abriu em Madri
aquilo que ele define como um
restaurante de fast food de ótima
qualidade, o Fast Good. O sonho
do cozinheiro é abrir dezenas, talvez centenas deles, na Espanha e
em outros países. Mas um chef
trabalhando em território tão distante do usual corre o risco de
perder o rumo, e Adrià admite
que aprende enquanto faz.
"Sabia que a primeira casa seria
uma espécie de experiência de
aprendizado", disse. "Passamos
oito meses tentando aperfeiçoar
as nossas batatas fritas. Estávamos a ponto de nos matar", diz.
"E também havia a questão da
alcatra. Eu vivia elogiando as virtudes da alcatra, e, na primeira
vez que fiz hambúrgueres, usei
um corte dessa carne para o sanduíche", disse. "Não deu certo.
Por isso, agora estou aprendendo
a fazer hambúrgueres!"
Concorrência
Adrià não tem nada de negativo
a declarar sobre seus concorrentes de maior porte. "Não estou
criticando o Burger King ou o
McDonald's", afirma. "Ferran
Adrià e os 100 melhores cozinheiros do mundo não conseguiriam
fazer melhor, pelos preços que
eles cobram".
No Fast Good, os hambúrgueres
(US$ 9,30) são feitos de carne
moída espanhola e servidos com
tapenade, uma pasta de azeitonas
pretas que os acompanha em pequenos potes de plástico vermelho. As fritas são frescas, cortadas
a cada manhã, e preparadas com
azeite de oliva espanhol, substituído a cada dia nas frigideiras. O
prato é servido em embalagens de
papelão dobrado, como as usadas
pelo McDonald's. O cardápio
também inclui pratos como nuggets de frango com limão, gaspacho em garrafas plásticas, ovos
fritos com batatas e presunto ibérico, além de diversas saladas preparadas na hora.
"A melhor coisa quanto a esse
lugar é que é novo; a estética é diferente", disse Juan Antonio Cusla Prieto, 35, gerente de uma empresa de jardinagem. "É um hambúrguer melhor que o do Burger
King ou o do McDonald's. Mas eu
queria tomar outra cerveja. E já
esperei 20 minutos pela minha
comida. Não queria ter de esperar
outro tanto."
Hambúrguer americano
Enquanto isso, onde se pode encontrar o melhor, e o mais rápido,
hambúrguer de Madri? O consenso, no pátio do Fast Good uma determinada noite, apontava para o
Alfredo's Barbecoa, um bar e restaurante de grelhados que usa temas texanos em sua decoração.
Lá, Alfredo, também conhecido
como Alfred Gradus, 60, um restaurateur do Bronx que usa barba
e um rabo de cavalo, oferece filés
de carne norte-americana, hambúrgueres e costelas cozidos em
grelha a lenha, milho no sabugo e
salada coleslaw.
A mulher dele, Ana María Galinda, espanhola, faz pudins de
pão, tortas de maçã e cheesecake à
maneira de Nova York. A especialidade da casa é o hambúrguer
com cebolas e requeijão.
Bebendo uma mistura de conhaque e Coca-Cola em uma caneca de cerveja, Gradus explica
seu segredo: "Um hambúrguer
suculento precisa de alguma gordura e de um fogo bem quente. O
calor produz muita fumaça. Você
entende a idéia, ou não?"
Gradus se orgulha de Adrià e da
maneira pela qual o El Bulli, quase
que sem ajuda, transformou a
imagem da culinária espanhola
em todo o mundo. "A comida espanhola é a melhor do mundo",
disse Gradus. "É por isso que eu
jamais ousaria me envolver em
um restaurante espanhol. Não
conseguiria competir nunca".
Mas Gradus, que diz que seus
pais tinham uma lanchonete no
Grand Concourse, ressalta que a
experiência conta, na hora de produzir comida simples, rápida, fácil e de boa qualidade. "Eu venho
fazendo hambúrgueres, milkshakes e omeletes desde os nove
anos", conta.
No clássico El Asador de Aranda, um restaurante a alguns quilômetros de distância, existe fast
food de espécie diferente. Entradas como salsichas grelhadas,
"chorizo" e rins de carneiro preparados à sautée chegam em rápida seqüência às mesas sem que os
clientes precisem pedir. O mesmo
se aplica ao cordeiro alimentado
com leite, cuja carne fica assando
durante três horas em imensos
fornos de barro.
"A comida não precisa ser um
lixo para ser rápida", disse José
Barajas, o maître que comanda o
serviço do restaurante há mais de
duas décadas. "A nossa comida é
comida para todos os momentos.
O fast food do passado".
Mas Adrià está convencido de
que encontrou um nicho de mercado com o Fast Good, que ele
considera ter um imenso potencial de crescimento.
"Preciso me concentrar no aspecto empresarial da coisa por
uns dois ou três anos, a fim de
comprar minha liberdade criativa", disse ele. "Sou feliz quando
estou cozinhando. E quando chego ao El Bulli para trabalhar, não
quero ter de ficar pensando a cada
dia se conseguirei ganhar dinheiro suficiente".
Tradução de Paulo Migliacci
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