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O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.
"Photoshop musical" não deixa cantor desafinar
Muito usado na indústria fonográfica, software Auto-Tune divide opiniões
Programa é usado para afinar vozes de intérpretes ou criar efeito "robotizado" como o da música "Believe", da cantora americana Cher
CLARICE CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Se para capas de revista sumir com rugas e gordurinhas é
trabalho para o Photoshop, na
música o segredo para afinar o
gogó é o Auto-Tune. No último
mês, o software criado em 1997
virou notícia e alvo do rapper
Jay-Z, que lançou a música
"D.O.A. (Death of Auto-Tune)"
-"morte ao Auto-Tune".
Na carona, Wyclef Jean lançou "Mr. Auto-Tune", em que
canta: "Sou o sr. Auto-Tune/ Se
você desafinar/ Transformo
você em celebridade". Reações
não tardaram: Kanye West tirou-o de seu CD; Mary J. Blige e
Black Eyed Peas defenderam o
programa. "Usamos com bom
gosto", disse Fergie.
A Antares Audio Tech, que
produz o software, levou com
bom humor. À Folha, enviou
uma charge em que a embalagem do programa diz que sua
morte é um "rumor exagerado". "Divulgaram nosso nome
entre um público que não o conhecia", diz Marco Alpert, vice-presidente de marketing.
Polêmicas à parte, o Auto-Tune e um similar, o Melodyne, são usados todos os dias em
estúdios do Brasil e do mundo.
Normalmente, corrigem trechos que "passariam despercebidos", dizem músicos e produtores ouvidos pela reportagem.
"Não se pode dizer que quem
usa esses programas não canta
bem. Na verdade, eles permitem que se aproveite uma gravação mais emotiva, que pode
ter saído do tom em algum momento", diz Jorge Vercilo. "No
meu DVD, supervisionei o trabalho do afinador e desfiz correções que o programa tinha
feito em trechos que "passeavam pelas notas", um recurso
do intérprete que o programa
nem sempre entende."
Fábrica de mentiras
"Os puristas dizem que você
tem que cantar sem errar, mas
sou prático", diz Rogério Flausino, do Jota Quest. "Gravo tudo num dia e repasso com o técnico no outro. O cantor deve arrumar a afinação porque é ele
quem sabe o que cantou."
Preta Gil, que usa o programa
"em detalhes", acha que há exagero. "Tem cantor que relaxa
porque o programa depois corrige. Mas ele também tira a espontaneidade. E tem muita
cantora nova com voz de pato
por causa do Auto-Tune."
O produtor Deeplick, que já
trabalhou com Wanessa Camargo e Seu Jorge, concorda.
"Ouço pessoas que me dão a
impressão de não cantarem nada, de serem construídas."
"Mas cantor montado não faz
sucesso, desaponta ao vivo", diz
o produtor Luis Paulo Serafim,
que já trabalhou com Maria Bethânia e Rita Lee e ganhou sete
Grammy. "O Auto-Tune é a fábrica de mentiras da nossa música, deixa qualquer um afinadinho. Mas o público percebe
que soa pior."
Apollo Nove, que já produziu
de Otto a Bebel Gilberto, não
usa mais o programa. "Já fiquei
uma semana de segunda a
quinta passando Auto-Tune
numa música [risos]. Mas desencanei, ele dá uma detonada
na voz. O melhor som é o puro."
"Como público, acho legal os
efeitos do software. Mas meu
interesse em um cantor que
não canta direito e usa o programa como maquiagem é bem
pequeno", diz João Marcello
Bôscoli, presidente da Trama.
Brendan Duffey, que já produziu bandas como Linkin
Park e Maroon Five, disse à Folha se irritar com os puristas.
"A tecnologia muda a arte. Pra
que deixar seu disco meio estragado se ele pode ficar superbonito com tecnologia?".
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