São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA/LANÇAMENTOS

"THE PRIVATE PRESS"

Artista vai além do hip hop sombrio do primeiro CD

DJ Shadow faz arte a partir de colagens e samples

CLAUDIA ASSEF
DA REPORTAGEM LOCAL

O trauma do segundo disco passou longe do californiano DJ Shadow, 29. Em "The Private Press" ele mostra uma mistura inspirada de hip hop, soul e música eletrônica usando apenas colagens e samples.
Até aí nada que fuja muito do seu primeiro disco, o elogiadíssimo "Endtroducing" (96). Só que "The Private Press" vai além do hip hop sombrio e por vezes experimental e "cabeçol" daquele.
Lançado em junho no mundo e agora no Brasil, "The Private Press" mostra o lado mais pop do universo de pesquisas sonoras do DJ. A segunda faixa, "Fixed Income", já anuncia as mudanças. Fundindo climas de soul music e batida de rap, a música funciona como literal introdução para o que vem adiante na próxima hora. "Walkie Talkie" começa com um sample de voz infantil. "Por que você não me conta uma história?", diz a criança. Um adulto responde "sim, vou contar". O diálogo é prefácio de uma viagem sonora, um hip hop arrastado, entorpecido, cheio de scratches e efeitos, bem à moda do primeiro disco do DJ.
Em "Six Days", porém, Shadow mostra que é hoje muito mais do que apenas um produtor de hip hop/música eletrônica. A faixa é um soul pop em marcha lenta, lindo de morrer. Poderia estar num disco da Motown, se a gravadora ainda existisse em 2002.
Colecionador compulsivo de vinis raros, Shadow priorizou samples antigos em "The Private Press". "Six Days", por exemplo, foi construída a partir de "Six Day War", do outsider do r'n'b dos anos 70 Colonel Bagshot.
Ao longo do disco, fica evidente que Shadow não está mais preocupado em mostrar seus dotes de turntablismo (técnica de fazer manobras nos toca-discos). Agora o DJ prefere apostar em melodias construídas a partir de colagens tão incrivelmente perfeitas que é difícil acreditar que os sons usados em "The Private Press" não nasceram junto com o disco.
Na verdade, algumas faixas são assinadas por Josh Davis, nome verdadeiro de Shadow. Como "The Right Thing", na verdade um rap curto tipo mea-culpa (a letra reclama de uma coleção de fitas, que cresce a cada minuto). Só que nada é puro na música de Shadow. A faixa se funde com samples conhecidos -como "Beat This", do Bomb The Bass- e obscuros e logo vira outra matéria. Com isso, Shadow mostra em "Private Press" que o tal do "copy-paste" também é arte.


The Private Press     
Artista: DJ Shadow
Lançamento: FNM
Quanto: R$ 27, em média



Texto Anterior: Discos: Lojas apostam em "nacionalização"
Próximo Texto: "Suba - Tributo": Artista é tratado com saudade e reverência
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.