São Paulo, sábado, 30 de setembro de 2006

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Walter Salles ataca a "invasão" da estética da TV

Em sessão no Festival do Rio, produtor de "O Céu de Suely" diz que filme contrasta com parte do atual cinema brasileiro

Diretor Karim Aïnouz dedica seu longa "às pessoas que buscam uma utopia" e a sessão do festival "a todas as mulheres do mundo"


SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Diante de uma platéia que se esparramou até pelo chão do Cine Palácio, na quinta à noite, para assistir à sessão competitiva de "O Céu de Suely", de Karim Aïnouz, na seção Première Brasil do Festival do Rio, o cineasta Walter Salles demarcou a importância do filme que estava por vir, em contraste com "um momento em que o cinema brasileiro é invadido por uma estética próxima da TV".
Salles é produtor de "O Céu de Suely", assim como de "Madame Satã" (2002), primeiro longa-metragem de Aïnouz.
"Este é um filme que acredita no silêncio, que tem a coragem de apostar em novos atores e que mostra que existe talento no cinema brasileiro fora do Rio e de São Paulo. O que Karim faz chama-se cinema e tenho orgulho de estar perto dele", disse Salles, na abertura.
Aïnouz, aplaudidíssimo quando subiu ao palco para apresentar seu filme, afirmou que "O Céu de Suely" -que acompanha a chegada (de volta) ao sertão de uma jovem nordestina e sua nova partida- "é sobre um personagem que tem vontade de decolar".
Ele dedicou seu longa "às pessoas que buscam uma utopia" e a sessão de anteontem "a todas as mulheres do mundo".
À Folha, Salles apontou o caminho do que havia identificado no palco do Cine Palácio como a invasão da estética televisiva na filmografia nacional:
"Quando o cinema voltou a existir, depois do desgoverno Collor [1990-1992], havia um desejo de cinema a carnificar os filmes que vieram a existir naquele período", disse o diretor, cujo segundo longa, "Terra Estrangeira" (1996), aborda o confisco da era Collor de Mello.
"Naquele período, esse desejo de cinema e a busca pela identidade perdida eram os elos entre esses filmes."
Para o cineasta, "um pouco mais de dez anos depois, o que se vê é a invasão crescente de filmes entendidos como produtos que derivam direta ou indiretamente da TV".
A Première Brasil segue hoje, com a apresentação de "Antonia", de Tata Amaral, que fez o caminho inverso. O novo longa de Amaral ("Através da Janela") deu origem a uma série homônima, que será exibida pela Globo neste ano, antes da estréia do filme nos cinemas.
Para ontem à noite estava prevista a apresentação de "Noel - O Poeta da Vila", de Ricardo van Steen. "Proibido Proibir", de Jorge Durán, encerra na próxima segunda a disputa entre os dez títulos brasileiros inéditos nos cinemas. Os vencedores serão conhecidos no encerramento do festival, no próximo dia 5.
"O Céu de Suely" terminou sob aplausos moderados.


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