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Walter Salles ataca a "invasão" da estética da TV
Em sessão no Festival do Rio, produtor de "O Céu de Suely" diz que filme contrasta com parte do atual cinema brasileiro
Diretor Karim Aïnouz dedica seu longa "às pessoas que buscam uma utopia" e a sessão do festival "a todas as mulheres do mundo"
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
Diante de uma platéia que se
esparramou até pelo chão do
Cine Palácio, na quinta à noite,
para assistir à sessão competitiva de "O Céu de Suely", de Karim Aïnouz, na seção Première
Brasil do Festival do Rio, o cineasta Walter Salles demarcou
a importância do filme que estava por vir, em contraste com
"um momento em que o cinema brasileiro é invadido por
uma estética próxima da TV".
Salles é produtor de "O Céu
de Suely", assim como de "Madame Satã" (2002), primeiro
longa-metragem de Aïnouz.
"Este é um filme que acredita
no silêncio, que tem a coragem
de apostar em novos atores e
que mostra que existe talento
no cinema brasileiro fora do
Rio e de São Paulo. O que Karim faz chama-se cinema e tenho orgulho de estar perto dele", disse Salles, na abertura.
Aïnouz, aplaudidíssimo
quando subiu ao palco para
apresentar seu filme, afirmou
que "O Céu de Suely" -que
acompanha a chegada (de volta) ao sertão de uma jovem nordestina e sua nova partida- "é
sobre um personagem que tem
vontade de decolar".
Ele dedicou seu longa "às
pessoas que buscam uma utopia" e a sessão de anteontem "a
todas as mulheres do mundo".
À Folha, Salles apontou o caminho do que havia identificado no palco do Cine Palácio como a invasão da estética televisiva na filmografia nacional:
"Quando o cinema voltou a
existir, depois do desgoverno
Collor [1990-1992], havia um
desejo de cinema a carnificar
os filmes que vieram a existir
naquele período", disse o diretor, cujo segundo longa, "Terra
Estrangeira" (1996), aborda o
confisco da era Collor de Mello.
"Naquele período, esse desejo de cinema e a busca pela
identidade perdida eram os
elos entre esses filmes."
Para o cineasta, "um pouco
mais de dez anos depois, o que
se vê é a invasão crescente de
filmes entendidos como produtos que derivam direta ou indiretamente da TV".
A Première Brasil segue hoje,
com a apresentação de "Antonia", de Tata Amaral, que fez o
caminho inverso. O novo longa
de Amaral ("Através da Janela") deu origem a uma série homônima, que será exibida pela
Globo neste ano, antes da estréia do filme nos cinemas.
Para ontem à noite estava
prevista a apresentação de
"Noel - O Poeta da Vila", de Ricardo van Steen. "Proibido
Proibir", de Jorge Durán, encerra na próxima segunda a
disputa entre os dez títulos
brasileiros inéditos nos cinemas. Os vencedores serão conhecidos no encerramento do
festival, no próximo dia 5.
"O Céu de Suely" terminou
sob aplausos moderados.
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