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Dino Buzzati recria mito grego para os quadrinhos
Escritor italiano aclimata história de Orfeu e Eurídice à Milão dos anos 1960
Autor de "O Deserto dos Tártaros" também terá lançado seu primeiro romance, "Barnabo das Montanhas", de 1933
MARCOS FLAMÍNIO PERES
DE SÃO PAULO
Dino Buzzati é um daqueles escritores que se tornaram reféns de um livro só
-como Jonathan Swift com
"As Viagens de Gulliver",
Herman Melville com "Moby
Dick" ou Robert Musil com
"O Homem sem Qualidades". De fato, "O Deserto dos
Tártaros" (1940) alçou o inquieto jornalista do "Corriere
della Sera" a estrela da literatura italiana e mundial.
No Brasil, o romance criou
um fiel círculo de adeptos
que culminaria em um ensaio consagrador do crítico
Antonio Candido ("Na Fortaleza" -de 1990-, incluído
em "O Discurso e a Cidade").
Mas, aos poucos, a criatura começa a se libertar de sua
criação, com o lançamento,
aqui, de duas novas obras
suas -"Poema em Quadrinhos", que sai na semana
que vem, e "Barnabo das
Montanhas", previsto para
janeiro.
Este, que foi seu primeiro
romance (1933), traz o mesmo tom de fábula de sua
obra-prima e o mesmo clima
de expectativa -a de uma
"grande ocasião" que possa
atribuir sentido a toda uma
existência.
Já sua HQ é algo bem diferente. Ela aclimata o mito
grego de Orfeu e Eurídice para a Milão contemporânea ao
narrar a vida de Orfi -jovem
que desagrada sua família de
aristocratas decadentes por
se tornar cantor e guitarrista
famoso.
Apaixonado pela figura de
uma mulher -Eura- que entra na sinistra casa defronte à
sua, ele decide seguir seu paradeiro. E, assim como na
história antiga, mergulha no
mundo dos mortos para trazê-la de volta à vida. Suas armas: apenas voz e canções.
"Poema em Quadrinhos"
foi todo escrito e desenhado
pelo próprio Buzzati (1906-1972), que se considerava antes de tudo um pintor -embora incompreendido.
Em seus traços, é nítida a
influência do surrealismo
nas personagens deformadas à la Salvador Dalí. Em outros momentos, quando o
protagonista se vê esmagado
por perspectivas sem fim e
fora de proporção, salta aos
olhos o cenário expressionista de filmes como "O Gabinete do Doutor Caligari" (1920),
de Robert Wiene.
Mas o livro dialoga também com a cultura pop -e
não só com os quadrinhos.
Publicado em 1969, em
plena efervescência da contracultura, ele repõe a figura
do jovem contestador do período. Orfi, "para escândalo
dos parentes, está fazendo
fortuna". E pior: no subsolo
de uma casa noturna, onde,
"todas as noites, adolescentes deliram por ele".
Difícil imaginar que Buzzati não tenha sido influenciado, à época, por músicas
como "Era um garoto que,
como eu, amava os Beatles e
os Rolling Stones" -sucesso
do pop italiano dos anos
1960 que também traz seu
Orfi rebelde, de voz vibrante
e guitarra em punho.
Mas as semelhanças terminam aí.
POEMA EM QUADRINHOS
AUTOR Dino Buzzati
TRADUÇÃO Eduardo Sterzi
EDITORA Cosac Naify
QUANTO R$ 42 (222 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo
BARNABO DAS MONTANHAS
AUTOR Dino Buzzati
TRADUÇÃO Mauricio Santana Dias
EDITORA Nova Fronteira
QUANTO preço e págs. não
definidos
AVALIAÇÃO bom
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