|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA/ESTRÉIAS
Longa em episódios "Crianças Invisíveis" inclui brasileira Katia Lund, que narra história ambientada em SP
Unicef põe oito diretores atrás de um filme
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
"Crianças Invisíveis", que estréia hoje no país, é um filme dirigido a 16 mãos, para exibir distintos olhares sobre situações de risco à infância ao redor do mundo.
A cineasta brasileira Katia Lund
ofereceu o seu recorte sobre a
questão no episódio "Bilu &
João", quarto dos sete que, reunidos, formam o longa.
Bilu (Vera Fernandes, 11) e João
(Francisco Anawake de Freitas,
13), moradores de uma favela
paulistana, amealham trocados
coletando e vendendo papel e latas de alumínio. Embora a face
nefasta da exclusão econômica esteja presente no filme, nem tudo é
sombra e dor na vida das crianças.
Lund dá aos personagens valores como otimismo, camaradagem, criatividade e talento para
driblar portas fechadas -literalmente. Segundo a cineasta, são
características que coincidem
com a avidez dos intérpretes por
descobertas, incluindo o cinema.
O menino Anawake chamou a
atenção do produtor de elenco
enquanto trabalhava na 25 de
Março, a mais famosa rua de comércio popular de São Paulo.
Ele "pilotava" uma carroça, que
trata por Ferrari -brincadeira
incorporada ao filme. Vera, vizinha de Anawake, destacou-se nos
testes e ganhou o papel.
"Recentemente perguntei aos
dois o que acharam quando o
produtor indagou se queriam fazer um filme. A resposta foi : "Ué,
normal'", conta Lund. "Acho que
estão preparados para qualquer
coisa. Para eles, tudo é engraçado,
o mundo está se revelando", diz.
Quando aceitou o projeto, Lund
não sabia que os demais diretores
seriam o sérvio Emir Kusturica, o
americano Spike Lee, os ingleses
Ridley e Jordan Scott, o chinês
John Woo, o italiano Stefano Veneruso e o argelino Mehdi Charef.
"Os produtores não queriam falar
sem concluir os contratos."
A diretora diz que ficou atraída
pela "liberdade criativa e a oportunidade de escrever, dirigir e
produzir no Brasil para um mercado global, incluindo o Brasil".
Ela afirma que "cada diretor
criou seu próprio roteiro, que os
produtores liam e para os quais
faziam sugestões, que os diretores
podiam ou não aceitar".
Com produção das italianas MK
e Rai, "Crianças Invisíveis" tem o
selo do Unicef (Fundo das Nações
Unidas para a Infância), para cujo
Programa Mundial de Alimentos
será destinada a renda a que os
produtores teriam direito.
Dada sua gênese, é natural supor no projeto um viés doutrinário e/ou denuncista. Mas Lund
afirma que a intenção dos produtores era, "em primeiro lugar, fazer um bom filme, com qualidade
e capacidade de envolver, divertir
e achar seu público".
"Crianças Invisíveis" teve sua
estréia mundial em setembro passado, no Festival de Veneza. O
lançamento no Brasil coincide
com as discussões provocadas pelo documentário "Falcão -Meninos do Tráfico", de MV Bill e
Celso Athayde, sobre as crianças
"empregadas" pelo narcotráfico
nas metrópoles brasileiras.
"Fiquei feliz em ver a voz do Bill
sendo ouvida no horário nobre. A
novidade, para mim, foi a Cufa
[Central Única das Favelas] conseguir fazer uma co-produção
com a Globo, ter controle da
montagem e colocar uma edição
de 58 minutos no "Fantástico", um
dos programas de maior audiência no Brasil", diz a diretora.
Co-diretora de "Notícias de
uma Guerra Particular" (1999),
com João Moreira Salles, e de "Cidade de Deus" (2003), com Fernando Meirelles, Lund diz que os
filmes "retrataram esse universo
[do tráfico], mas nada mudou
desde que saíram".
Texto Anterior: Crítica/"Violação de Privacidade": Diretor insere política em ficção familiar Próximo Texto: Crítica: Visão institucional limita os episódios Índice
|