São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 2006

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CRÍTICA

Visão institucional limita os episódios

CRÍTICO DA FOLHA

"Crianças Invisíveis" representa a radicalização de uma tendência que já se manifestou em outras produções periféricas a Hollywood: a do filme-ONG, que absorve as técnicas do "marketing" responsável e, sobretudo, a visão institucional das questões que afligem o mundo globalizado. O discurso em torno de seu lançamento evoca, de um lado, o "poder do cinema e sua arte", e, de outro, "a eficácia das organizações das Nações Unidas, líderes em proteção às crianças" (a Unicef e o World Food Programme apoiaram a produção).
Mas a pressão do "cinema para mudar o mundo" e o apego a uma visão institucional impedem que "Crianças Invisíveis" alce vôos mais altos, limitando bastante os sete episódios que compõem o longa-metragem.
O episódio brasileiro, por exemplo: realizado com competência profissional por Katia Lund, "Bilu & João" parece ter sido concebido com um objetivo muito específico: apresentar uma visão alternativa àquela que vinculou a criança pobre brasileira à violência do tráfico de drogas ("Cidade de Deus"). Mas Lund exagera nesse esforço e acaba desenhando uma visão "poliana" do cotidiano das crianças que sobrevivem catando papelão nas ruas de São Paulo.
No conjunto dos curtas, os destaques ficam com "Jesus Children of America", de Spike Lee, e "Song-Song & Little Cat", de John Woo. No caso de Spike Lee, pelo esforço de inserir o problema (uma criança com Aids) em um contexto mais amplo. No caso de John Woo, por se tratar do episódio mais autoral, no qual o diretor trabalha seu tema favorito (o duplo), sem medo de ir fundo na proposta melodramática.
Os outros episódios ("Tanza", de Mehdi Charef, "Marjan", de Emir Kusturica, "Jonathan", de Jordan e Ridley Scott, e "Ciro", de Stefano Veneruso) não conseguem nem mesmo provocar a comoção que pretendiam.
(PEDRO BUTCHER)

Crianças do Mundo
All the Invisible Children
  
Produção: França/Itália, 2005
Direção: vários
Com: Vera Fernandez, Francisco Anawake e outros
Quando: a partir de hoje no Espaço Unibanco, Pátio Higienópolis e circuito


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