São Paulo, sábado, 31 de março de 2007

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Osesp encerra com brilho tour europeu

Ovacionada em 16 cidades do continente, orquestra paulista fez seu "grand finale" quinta, no Théâtre du Châtelet, em Paris

Depois de passar por oito países da Europa, John Neschling e cia. ganham aplausos e críticas positivas da imprensa


LENEIDE DUARTE-PLON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

Depois do triunfo da noite de quinta-feira em Paris, quando encerrou a turnê européia, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo vai voltar ao Brasil com uma bagagem mais do que respeitável. Foi aclamada em toda a temporada européia, por 16 cidades de oito países.
Paris, no entanto, tinha o gosto de estréia, tanto para o maestro John Neschling quanto para a própria orquestra: nem ele nem a Osesp haviam se apresentado antes aos parisienses. Considerado exigente e difícil, esse público foi caloroso e entusiasmado. Ao fim da apresentação, muitos aplaudiam de pé.
Os melômanos franceses se misturavam a grande número de brasileiros e lotavam quase totalmente o Théâtre du Châtelet. O programa apresentado era considerado difícil e sério pelo maestro Neschling.
Ele dizia à Folha, antes do início do espetáculo: "Acabamos com a primeira de Tchaikovsky. Não é uma peça que levanta platéia. É uma responsabilidade grande, um concerto difícil de ganhar".
A reação do público mostrou que a orquestra ganhou. Nelson Freire foi o outro vitorioso da noite. Mas o pianista é um "habitué" de Paris e das platéias francesas. Em janeiro deste ano, ele já se apresentara naquele mesmo palco, num concerto exclusivo.
Com a Osesp, Nelson Freire tocou o "Concerto para piano nº 4 em sol menor, op. 40", de Rachmaninov. Antes, a orquestra executou a "Abertura Concertante", de Camargo Guarnieri. Para encerrar, apresentou a Sinfonia nº 1 em sol maior, Op. 13 -"Sonhos de Inverno", de Tchaikovsky.
"Fechamos com chave de ouro", reagiu radiante o maestro Neschling. "Mas, depois de tudo que vimos nas outras cidades, não achávamos que ia ser diferente. Sabíamos que íamos encarar algumas das platéias mais importantes e das críticas mais duras da Europa e nos preparamos para isso."

Sala São Paulo e Châtelet
O francês Jean-Charles Dunoyer, freqüentador de concertos por todo solo europeu, elogiou o programa e a qualidade da execução. "A orquestra sinfônica de São Paulo é uma verdadeira descoberta: técnica e musicalmente notável, achei as cordas excepcionais, "flamboyantes". Mas também pude perceber o amor que os músicos têm por sua arte, e esse entusiasmo conquistou a sala. A reação calorosa que vi não é muito comum em Paris."
Ovacionado, Nelson Freire voltou ao palco cinco vezes para agradecer. Tocou como bis "Orfeu e Eurídice", de Gluck. No final do concerto, foi a vez do maestro Neschling e da orquestra executarem três bis: "Mourão", de César Guerra Peixe, "Malambo", de Ginastera, e o prelúdio da 4ª bachiana de Villa-Lobos.
A imprensa francesa fez uma cobertura à altura. "Le Monde" e "Libération" deram longos textos, com chamadas nas primeiras páginas.
O enviado especial do "Libération" ao concerto de Barcelona destacou que as turnês internacionais "são uma boa oportunidade para a Osesp mostrar que é ideal não somente para executar músicas de Villa-Lobos, Braga, Mignone ou Guarnieri mas também mostrar-se competitiva quando se trata de fazer justiça a Beethoven ou Tchaikovski".
Durante o ensaio, Neschling recomendava aos músicos: "Esse vibrato aqui é importante. Na sala São Paulo, é diferente". Depois, explicou à Folha a diferença entre a acústica do Châtelet, "de terceira categoria" e a da Sala São Paulo. "A parisiente é mais seca, menos generosa, mais transparente. A paulista é uma acústica de concertos, maravilhosa, acolhedora. Mas a França não é famosa por suas boas salas de concerto", diz.
O maestro dedicou parte de seu tempo na capital francesa a audições de músicos daquele país para preencher vagas em sua orquestra.


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