|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Osesp encerra com brilho tour europeu
Ovacionada em 16 cidades do continente, orquestra paulista fez seu "grand finale" quinta, no Théâtre du Châtelet, em Paris
Depois de passar por oito países da Europa, John Neschling e cia. ganham aplausos e críticas positivas
da imprensa
LENEIDE DUARTE-PLON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
Depois do triunfo da noite de
quinta-feira em Paris, quando
encerrou a turnê européia, a
Orquestra Sinfônica do Estado
de São Paulo vai voltar ao Brasil
com uma bagagem mais do que
respeitável. Foi aclamada em
toda a temporada européia, por
16 cidades de oito países.
Paris, no entanto, tinha o
gosto de estréia, tanto para o
maestro John Neschling quanto para a própria orquestra:
nem ele nem a Osesp haviam se
apresentado antes aos parisienses. Considerado exigente
e difícil, esse público foi caloroso e entusiasmado. Ao fim da
apresentação, muitos aplaudiam de pé.
Os melômanos franceses se
misturavam a grande número
de brasileiros e lotavam quase
totalmente o Théâtre du Châtelet. O programa apresentado
era considerado difícil e sério
pelo maestro Neschling.
Ele dizia à Folha, antes do
início do espetáculo: "Acabamos com a primeira de Tchaikovsky. Não é uma peça que levanta platéia. É uma responsabilidade grande, um concerto
difícil de ganhar".
A reação do público mostrou
que a orquestra ganhou. Nelson Freire foi o outro vitorioso
da noite. Mas o pianista é um
"habitué" de Paris e das platéias francesas. Em janeiro
deste ano, ele já se apresentara
naquele mesmo palco, num
concerto exclusivo.
Com a Osesp, Nelson Freire
tocou o "Concerto para piano
nº 4 em sol menor, op. 40", de
Rachmaninov. Antes, a orquestra executou a "Abertura Concertante", de Camargo Guarnieri. Para encerrar, apresentou a Sinfonia nº 1 em sol
maior, Op. 13 -"Sonhos de Inverno", de Tchaikovsky.
"Fechamos com chave de ouro", reagiu radiante o maestro
Neschling. "Mas, depois de tudo que vimos nas outras cidades, não achávamos que ia ser
diferente. Sabíamos que íamos
encarar algumas das platéias
mais importantes e das críticas
mais duras da Europa e nos
preparamos para isso."
Sala São Paulo e Châtelet
O francês Jean-Charles Dunoyer, freqüentador de concertos por todo solo europeu, elogiou o programa e a qualidade
da execução. "A orquestra sinfônica de São Paulo é uma verdadeira descoberta: técnica e
musicalmente notável, achei as
cordas excepcionais, "flamboyantes". Mas também pude perceber o amor que os músicos
têm por sua arte, e esse entusiasmo conquistou a sala. A reação calorosa que vi não é muito
comum em Paris."
Ovacionado, Nelson Freire
voltou ao palco cinco vezes para agradecer. Tocou como bis
"Orfeu e Eurídice", de Gluck.
No final do concerto, foi a vez
do maestro Neschling e da orquestra executarem três bis:
"Mourão", de César Guerra
Peixe, "Malambo", de Ginastera,
e o prelúdio da 4ª bachiana de
Villa-Lobos.
A imprensa francesa fez uma
cobertura à altura. "Le Monde"
e "Libération" deram longos
textos, com chamadas nas primeiras páginas.
O enviado especial do "Libération" ao concerto de Barcelona destacou que as turnês internacionais "são uma boa
oportunidade para a Osesp
mostrar que é ideal não somente para executar músicas de Villa-Lobos, Braga, Mignone ou
Guarnieri mas também mostrar-se competitiva quando se
trata de fazer justiça a Beethoven ou Tchaikovski".
Durante o ensaio, Neschling
recomendava aos músicos: "Esse vibrato aqui é importante.
Na sala São Paulo, é diferente".
Depois, explicou à Folha a diferença entre a acústica do Châtelet, "de terceira categoria" e a
da Sala São Paulo. "A parisiente
é mais seca, menos generosa,
mais transparente. A paulista é
uma acústica de concertos, maravilhosa, acolhedora. Mas a
França não é famosa por suas
boas salas de concerto", diz.
O maestro dedicou parte de
seu tempo na capital francesa a
audições de músicos daquele
país para preencher vagas em
sua orquestra.
Texto Anterior: Fabio de Souza Andrade: Vozes da memória Próximo Texto: Livros: Obra de Benedetti traz melancolia uruguaia Índice
|