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POLÍTICA CULTURAL
Mulher do ministro Gilberto Gil diz que não há incompatibilidade ética em seus projetos sociais
Flora Gil busca patrocínio em estatais
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
A produtora cultural Flora Gil
solicitou patrocínio e apoio às estatais Petrobras e Banco do Brasil,
em nome da Casa de Cultura da
Rocinha, após a nomeação de seu
marido, Gilberto Gil, para o Ministério da Cultura.
Ela também está na produção
do show idealizado pela estatal Infraero em benefício do programa
Fome Zero, que acontece hoje, em
Recife. Preta Gil, filha do ministro, também atua no projeto.
Flora, que dirige a Gege, administradora da carreira de Gilberto
Gil, diz que começou a trabalhar
com a casa de cultura (que será
inaugurada na próxima segunda,
no Rio) em dezembro de 2002,
quando o marido ainda não fazia
parte do governo Lula.
"Procurei a Embratel, empresa
[privada] com que trabalho há
mais de seis anos, e fechamos
uma parceria sócio-cultural. Após
Gil ter assumido o ministério,
procurei a Unesco e a Petrobras,
que tambem gostaram da iniciativa e aprovaram a idéia de parceria
no projeto", afirma.
Desde a posse de Gil, a empresária diz que interrompeu, por razões éticas, seu trabalho em outros projetos que vinha desenvolvendo pela Gege. "No caso da Rocinha é diferente. Lá não sou remunerada, sou voluntária. Mas os
outros contratados pela casa receberão salário. A incompatibilidade ética cai nos meus projetos culturais, não nos sociais."
Flora diz que não tem cargo na
instituição e que seu nome não
consta do estatuto. Segundo ela,
as captações que vem buscando
não se beneficiam de leis de incentivo cuja autorização dependa
do Ministério da Cultura.
Ela defende a participação no
projeto, afirmando que é um modo de atuar contra a explosão de
violência no Rio. "A preocupação
deveria ser como cada um de nós
poderia ajudar, e não se é ou deixa
de ser ético pedir ajuda às empresas. Isso para mim é hipocrisia."
A Petrobras afirma que não é
Flora quem está captando recursos para a casa de cultura (a instituição é dirigida por Maurício Fagundes, do Grupo de Cultura da
Rocinha) e que o projeto, em tramitação, ainda não foi aprovado
na estatal. Flora reconhece que
não houve aprovação final do
projeto, que prevê a captação de
300 mil reais junto a Petrobras.
"Não assinei contrato ainda, mas
fechei verbalmente."
O Banco do Brasil também foi
procurado por Flora para participar do projeto da casa da Rocinha. Segundo a assessoria do banco, ela foi à sua divisão de marketing cultural pedir patrocínio e
verba de auxílio para a produção
de um show na casa de cultura.
A instituição afirma que indeferiu o pedido, porque o BB possui
planos predefinidos de investimento e não costuma fazer investimentos esporádicos.
Flora afirma que seu pedido não
foi de patrocínio. "Fui até lá levar
um pedido para que apoiassem
uma festa junina que acontecerá
na favela, no dia 21. Se a Casa de
Cultura não conseguir parceria,
vou fazer a festa sozinha, com patrocínio de Flora Gil."
Segundo ela, o presidente da casa, Maurício Fagundes, ainda
mantém contato com o Banco do
Brasil, para patrocínios futuros.
"O BB vai fazer algo com a casa
no segundo semestre. Seriam
projetos de parceria, em que o
banco ajudaria na montagem de
palco, som e luz e na divulgação.
Aí não é comigo, é o presidente da
casa de cultura, que não tem nada
a ver com ministério ou ética."
Sobre as negociações com a Infraero, Flora diz: "O show ia ser
pago, mas todo mundo resolveu
aderir ao Fome Zero e ninguém
vai cobrar nada. Não existe contrato entre a Gege e a Infraero".
A superintendência de comunicação da estatal nega que se tenha
cogitado dar um caráter comercial ao show, para o qual estão
sendo vendidos 2.000 convites de
R$ 350, que podem ser pagos por
depósito na conta do Fome Zero
ou cheque nominal ao programa.
De acordo com a empresa, não
há vínculo direto entre a Gege e a
Infraero, e a única contrapartida
do show se dará em forma de banners das produtoras e fornecedores envolvidos no show.
Governo
Procurada pela Folha, a Controladoria Geral da União (CGU), do
ministro Waldir Pires, afirmou
por intermédio de sua assessoria
que não compete ao órgão emitir
parecer sobre a compatibilidade
ética da movimentação de Flora
Gil junto a estatais. Segundo a
CGU, o ministério existe para fiscalizar possíveis lesões ao erário, e
não questões éticas.
A Folha procurou também a
Comissão de Ética Pública da Presidência da República. Seu secretário-executivo, Mauro Sérgio
Bogéa Lopes, afirmou que a praxe
da comissão tem sido ouvir todas
as partes envolvidas antes de se
pronunciar publicamente.
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