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São Paulo, sábado, 31 de maio de 2003

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POLÍTICA CULTURAL

Mulher do ministro Gilberto Gil diz que não há incompatibilidade ética em seus projetos sociais

Flora Gil busca patrocínio em estatais

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

A produtora cultural Flora Gil solicitou patrocínio e apoio às estatais Petrobras e Banco do Brasil, em nome da Casa de Cultura da Rocinha, após a nomeação de seu marido, Gilberto Gil, para o Ministério da Cultura.
Ela também está na produção do show idealizado pela estatal Infraero em benefício do programa Fome Zero, que acontece hoje, em Recife. Preta Gil, filha do ministro, também atua no projeto.
Flora, que dirige a Gege, administradora da carreira de Gilberto Gil, diz que começou a trabalhar com a casa de cultura (que será inaugurada na próxima segunda, no Rio) em dezembro de 2002, quando o marido ainda não fazia parte do governo Lula.
"Procurei a Embratel, empresa [privada] com que trabalho há mais de seis anos, e fechamos uma parceria sócio-cultural. Após Gil ter assumido o ministério, procurei a Unesco e a Petrobras, que tambem gostaram da iniciativa e aprovaram a idéia de parceria no projeto", afirma.
Desde a posse de Gil, a empresária diz que interrompeu, por razões éticas, seu trabalho em outros projetos que vinha desenvolvendo pela Gege. "No caso da Rocinha é diferente. Lá não sou remunerada, sou voluntária. Mas os outros contratados pela casa receberão salário. A incompatibilidade ética cai nos meus projetos culturais, não nos sociais."
Flora diz que não tem cargo na instituição e que seu nome não consta do estatuto. Segundo ela, as captações que vem buscando não se beneficiam de leis de incentivo cuja autorização dependa do Ministério da Cultura.
Ela defende a participação no projeto, afirmando que é um modo de atuar contra a explosão de violência no Rio. "A preocupação deveria ser como cada um de nós poderia ajudar, e não se é ou deixa de ser ético pedir ajuda às empresas. Isso para mim é hipocrisia."
A Petrobras afirma que não é Flora quem está captando recursos para a casa de cultura (a instituição é dirigida por Maurício Fagundes, do Grupo de Cultura da Rocinha) e que o projeto, em tramitação, ainda não foi aprovado na estatal. Flora reconhece que não houve aprovação final do projeto, que prevê a captação de 300 mil reais junto a Petrobras. "Não assinei contrato ainda, mas fechei verbalmente."
O Banco do Brasil também foi procurado por Flora para participar do projeto da casa da Rocinha. Segundo a assessoria do banco, ela foi à sua divisão de marketing cultural pedir patrocínio e verba de auxílio para a produção de um show na casa de cultura.
A instituição afirma que indeferiu o pedido, porque o BB possui planos predefinidos de investimento e não costuma fazer investimentos esporádicos.
Flora afirma que seu pedido não foi de patrocínio. "Fui até lá levar um pedido para que apoiassem uma festa junina que acontecerá na favela, no dia 21. Se a Casa de Cultura não conseguir parceria, vou fazer a festa sozinha, com patrocínio de Flora Gil."
Segundo ela, o presidente da casa, Maurício Fagundes, ainda mantém contato com o Banco do Brasil, para patrocínios futuros.
"O BB vai fazer algo com a casa no segundo semestre. Seriam projetos de parceria, em que o banco ajudaria na montagem de palco, som e luz e na divulgação. Aí não é comigo, é o presidente da casa de cultura, que não tem nada a ver com ministério ou ética."
Sobre as negociações com a Infraero, Flora diz: "O show ia ser pago, mas todo mundo resolveu aderir ao Fome Zero e ninguém vai cobrar nada. Não existe contrato entre a Gege e a Infraero".
A superintendência de comunicação da estatal nega que se tenha cogitado dar um caráter comercial ao show, para o qual estão sendo vendidos 2.000 convites de R$ 350, que podem ser pagos por depósito na conta do Fome Zero ou cheque nominal ao programa.
De acordo com a empresa, não há vínculo direto entre a Gege e a Infraero, e a única contrapartida do show se dará em forma de banners das produtoras e fornecedores envolvidos no show.

Governo
Procurada pela Folha, a Controladoria Geral da União (CGU), do ministro Waldir Pires, afirmou por intermédio de sua assessoria que não compete ao órgão emitir parecer sobre a compatibilidade ética da movimentação de Flora Gil junto a estatais. Segundo a CGU, o ministério existe para fiscalizar possíveis lesões ao erário, e não questões éticas.
A Folha procurou também a Comissão de Ética Pública da Presidência da República. Seu secretário-executivo, Mauro Sérgio Bogéa Lopes, afirmou que a praxe da comissão tem sido ouvir todas as partes envolvidas antes de se pronunciar publicamente.


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