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Tecnologia
aproxima fãs de
profissionais
THOMAS SUTCLIFFE
DO "INDEPENDENT"
A maioria dos filmes feitos
por fãs de "Guerra nas Estrelas" chama a atenção por ser
muito amadora, embora possa
divertir. Em "Anakin Dynamite", por exemplo, um cineasta
de idade colegial refez o épico
de George Lucas num curta em
estilo nerd. E, num filme cativante intitulado "Walk in a
Bamboo Bush", alguém chamado Tetsuro Saiki recriou as
cenas de combate do primeiro
filme da série usado estampas
têxteis japonesas em preto-e-branco. É difícil descrever, mas
vale dar uma olhada no site
atomfilms.com.
Mas nunca daria para confundir qualquer um desses trabalhos com a coisa real. Eles
são brincalhões, alusivos e afetuosos, uma espécie de carta de
fã em QuickTime. Já "Revelations" é mais como um daqueles fãs obsessivos que aparece
diante de sua porta, depois de
submeter-se a uma reconstrução facial para ficar exatamente
parecido com você.
Não é apenas em filmes que
os computadores estão começando a erodir o monopólio da
indústria sobre o acabamento
profissional. O site BBC News
vem colocando no ar uma interessante série curta intitulada
"Digital Citizens", que analisa
vários tipos de produções culturais amadoras, desde fotoblogs até podcasting (pessoas
que criam seus programas de
rádio próprios e os distribuem
por meio de downloads). Recentemente a série destacou o
caso de um músico indiano
que, para financiar seu primeiro álbum, vendeu no e-Bay
ações de seus lucros futuros
-uma espécie de "título" caseiro para pessoas que gostam
de apostar. Espantosamente,
ele conseguiu que três investidores pagassem 3.000 libras
(cerca de R$ 12 mil) cada um
por seu som de piano-bar.
Se você quiser se divertir,
procure no Google as palavras
"The Wrong Bananas" e assista
à animação de Joel Veitch, na
qual dois orangotangos-bebês
cantam sobre os problemas
que enfrentam com as frutas
desconhecidas.
O que a tecnologia está fazendo equivale a abrir a tampa de
um imenso reservatório de
criatividade até agora impedida de extravasar. Infelizmente,
não se leva muito tempo para
constatar que 99% dos projetos
individuais e das coisas de fim
de semana publicadas on-line
são fracas. Existem alguns prodígios de esforço derivativo,
mas boa parte do que se vê é
pouco criativo e é quase imediatamente arrasado por críticos que são mais ferozes do os
que usam a tecnologia antiga.
Tudo isso abre outra hipótese
sedutora. Se qualquer pessoa
passar a ter condições de fazer
as coisas aparatosas, como as
seqüências de efeitos especiais,
então a rentável separação entre o profissional e o amador
terá que ser determinada por
algo que softwares não podem
imitar: ou seja, pensamentos
inéditos e verve inimitável.
Se qualquer pessoa puder ser
George Lucas, então George
Lucas terá de se reinventar. E já
não será sem tempo.
Tradução de Clara Allain
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