São Paulo, domingo, 31 de julho de 2005

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Tecnologia aproxima fãs de profissionais

THOMAS SUTCLIFFE
DO "INDEPENDENT"

A maioria dos filmes feitos por fãs de "Guerra nas Estrelas" chama a atenção por ser muito amadora, embora possa divertir. Em "Anakin Dynamite", por exemplo, um cineasta de idade colegial refez o épico de George Lucas num curta em estilo nerd. E, num filme cativante intitulado "Walk in a Bamboo Bush", alguém chamado Tetsuro Saiki recriou as cenas de combate do primeiro filme da série usado estampas têxteis japonesas em preto-e-branco. É difícil descrever, mas vale dar uma olhada no site atomfilms.com.
Mas nunca daria para confundir qualquer um desses trabalhos com a coisa real. Eles são brincalhões, alusivos e afetuosos, uma espécie de carta de fã em QuickTime. Já "Revelations" é mais como um daqueles fãs obsessivos que aparece diante de sua porta, depois de submeter-se a uma reconstrução facial para ficar exatamente parecido com você.
Não é apenas em filmes que os computadores estão começando a erodir o monopólio da indústria sobre o acabamento profissional. O site BBC News vem colocando no ar uma interessante série curta intitulada "Digital Citizens", que analisa vários tipos de produções culturais amadoras, desde fotoblogs até podcasting (pessoas que criam seus programas de rádio próprios e os distribuem por meio de downloads). Recentemente a série destacou o caso de um músico indiano que, para financiar seu primeiro álbum, vendeu no e-Bay ações de seus lucros futuros -uma espécie de "título" caseiro para pessoas que gostam de apostar. Espantosamente, ele conseguiu que três investidores pagassem 3.000 libras (cerca de R$ 12 mil) cada um por seu som de piano-bar.
Se você quiser se divertir, procure no Google as palavras "The Wrong Bananas" e assista à animação de Joel Veitch, na qual dois orangotangos-bebês cantam sobre os problemas que enfrentam com as frutas desconhecidas.
O que a tecnologia está fazendo equivale a abrir a tampa de um imenso reservatório de criatividade até agora impedida de extravasar. Infelizmente, não se leva muito tempo para constatar que 99% dos projetos individuais e das coisas de fim de semana publicadas on-line são fracas. Existem alguns prodígios de esforço derivativo, mas boa parte do que se vê é pouco criativo e é quase imediatamente arrasado por críticos que são mais ferozes do os que usam a tecnologia antiga.
Tudo isso abre outra hipótese sedutora. Se qualquer pessoa passar a ter condições de fazer as coisas aparatosas, como as seqüências de efeitos especiais, então a rentável separação entre o profissional e o amador terá que ser determinada por algo que softwares não podem imitar: ou seja, pensamentos inéditos e verve inimitável.
Se qualquer pessoa puder ser George Lucas, então George Lucas terá de se reinventar. E já não será sem tempo.


Tradução de Clara Allain


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