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Livro busca a mulher na obra de Lima Barreto
MARILENE FELINTO
da Equipe de Articulistas
A literatura de Lima
Barreto (1881-1922)
é o objeto de investigação do livro
"Entre a Agulha e a
Caneta - A Mulher
na Obra de Lima Barreto", da pesquisadora Eliane Vasconcellos,
originalmente apresentado como
tese de doutorado ao departamento de Letras da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, há quase dez anos.
O estudo tem o objetivo de encontrar, na obra do escritor, um
reflexo da condição social da mulher brasileira na virada do século
19. Para tanto, Eliane Vasconcellos percorreu os textos de ficção
(romances e contos) e os de não-ficção (crônicas, notas, apontamentos de diário e correspondências) do autor de "Triste Fim de
Policarpo Quaresma" (1915).
A pesquisadora explica: "(...) a
escrita de Lima Barreto sempre
esteve a favor dos oprimidos, dos
humilhados, dos esquecidos pela
sociedade. (...) O sentido da escravidão social da alma humana que
traspassa a obra de Lima Barreto
despertou-nos o interesse de nela
estudar a situação da mulher nas
suas personagens. (...)."
Vasculhando a literatura limabarretiana, Vasconcellos acaba
apresentando, ao mesmo tempo,
uma perspectiva histórico-sociológica do lugar da mulher na sociedade brasileira da época. Sua
análise abre-se para vasta gama
de assuntos: o casamento como
transação comercial, em que a
mulher é objeto de troca, o papel
de rainha do lar, a prostituição, o
lugar relegado às solteiras, o adultério, a virgindade e a lenta conquista da educação e do trabalho.
O romance social de Lima Barreto sempre caiu como uma luva
às especulações da sociologia da
literatura. Mulato pobre, criado
no subúrbio carioca, o escritor
anti-parnasiano e pré-modernista comeu o pão que o diabo amassou para ganhar o reconhecimento e o prestígio que merecia. Toda
a sua obra é uma crítica -às vezes irônica, às vezes amarga- das
injustiças e desigualdades sociais
que ele experimentou na pele.
A tese de Eliane Vasconcellos
-ao revelar um Lima Barreto ao
mesmo tempo crítico do lugar subalterno reservado às mulheres
de sua época, mas conservador ao
se posicionar contra a educação
formal das mesmas- aponta as
contradições internas da ideologia do autor tido (talvez injustamente) como um "ressentido"
com o mundo e um autêntico resistente à modernização.
Se, como diz a autora, o narrador de "Triste Fim" acusa a sociedade e seus preconceitos pelo que
ocorreu a Ismênia (que enlouqueceu ao ser abandonada pelo noivo), o escritor foi incapaz de enxergar benefícios no surgimento
dos colégios religiosos para a educação de moças.
"Embora o autor em suas crônicas tenha lutado por melhores
oportunidades educacionais para
o sexo feminino, não colocou esta
denúncia na voz de suas personagens. (...) Os narradores de Lima
Barreto não colocaram a mulher,
neste aspecto, no mesmo pé de
igualdade com o homem, mas como um ser inferior", a pesquisadora conclui.
Seja como for, o estudo de Eliane Vasconcellos restringe-se ao
campo ideológico, não aborda o
campo estilístico da obra de Lima
Barreto, ele que foi um dos mais
importantes renovadores da nossa literatura.
Avaliação:
Livro: Entre a Agulha e a Caneta
Autora: Eliane Vasconcellos
Lançamento: Lacerda
Quanto: R$ 28 (370 págs.)
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