São Paulo, sábado, 31 de agosto de 2002

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"CONVERSA COM A MEMÓRIA"

Mestre recorda 50 anos de jornalismo

AMIR LABAKI
ARTICULISTA DA FOLHA

Com a morte há quase uma década de Carlos Castello Branco (1920-1993), Villas-Bôas Corrêa herdou a coroa no jornalismo político brasileiro.
Janio de Freitas, colunista e membro do conselho editorial da Folha, seria o único homem de imprensa a disputar-lhe o trono, mas, se reportagem e análise política são o essencial da arte de Castellinho e Corrêa, representam apenas a atividade jornalística mais recente do grande fazedor de jornais que Janio, como o saudoso Cláudio Abramo (1923-1987), sempre foi.
Aos 78 anos, o bacharel em direito Luiz Antonio Villas-Bôas Corrêa lança seu segundo livro autobiográfico, "Conversa com a Memória - A História de Meio Século de Jornalismo Político". Precedeu-o "Casos da Fazenda no Recife" (Objetiva, 2001), em que, nas recordações de suas origens, soltava-se o estilista por inteiro.
Há muitos livros neste segundo volume. "Conversa com a Memória" é, a um só tempo, a autobiografia de um repórter carioca, uma cativante síntese da história brasileira do pós-guerra e um manual de jornalismo.
Começando pelo último, Villas-Bôas discute logo de saída a ética do jornalista, em particular a do repórter político. Resume tudo numa fórmula de madura simplicidade: "Ética é um imperativo do caráter, que não se embaraça no cipó das dúvidas".
O primeiro terço de "Conversa" recorda com nostalgia os tempos românticos do jornalismo pré-corporações que girava em torno do Rio, capital da República (1889-1960), quando era normal o encadeamento de três turnos de trabalho para fazer-se frente às despesas familiares do mês.
Villas-Bôas lembra nada menos que 54 anos de ofício, do "foca" no extinto matutino "A Notícia" ao atual colunista do "Jornal do Brasil", com passagens, entre outros, pela sucursal carioca de "O Estado de S. Paulo" e pela TV Manchete.
No restante do livro, Corrêa desmente involuntariamente a sua própria fórmula modesta: "Não faço história, conto o que vi". Da queda do Estado Novo (1945) à reeleição de FHC (1998), eis aqui os episódios centrais, resumidos e analisados, da evolução política brasileira contemporânea.
São fascinantes as reconstituições de seus encontros, entre muitos, com os presidentes Getúlio Vargas (1882-1954), Jânio Quadros (1917-1992) e João Batista Figueiredo (1918-1999) e com o governador paulista Adhemar de Barros (1901-1969).
Seu Getúlio devolve humanidade ao mito. Sua distinção entre Jânio e Collor é definitiva. Se oriente, (e)leitor: renda-se ao prazer desta conversa.


Conversa com a Memória     
Autor: Villas-Bôas Corrêa
Editora: Objetiva
Quanto: R$ 36,90 (284 págs.)




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