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"CONVERSA COM A MEMÓRIA"
Mestre recorda 50 anos de jornalismo
AMIR LABAKI
ARTICULISTA DA FOLHA
Com a morte há quase uma
década de Carlos Castello
Branco (1920-1993), Villas-Bôas
Corrêa herdou a coroa no jornalismo político brasileiro.
Janio de Freitas, colunista e
membro do conselho editorial da
Folha, seria o único homem de
imprensa a disputar-lhe o trono,
mas, se reportagem e análise política são o essencial da arte de Castellinho e Corrêa, representam
apenas a atividade jornalística
mais recente do grande fazedor
de jornais que Janio, como o saudoso Cláudio Abramo (1923-1987), sempre foi.
Aos 78 anos, o bacharel em direito Luiz Antonio Villas-Bôas
Corrêa lança seu segundo livro
autobiográfico, "Conversa com a
Memória - A História de Meio Século de Jornalismo Político". Precedeu-o "Casos da Fazenda no
Recife" (Objetiva, 2001), em que,
nas recordações de suas origens,
soltava-se o estilista por inteiro.
Há muitos livros neste segundo
volume. "Conversa com a Memória" é, a um só tempo, a autobiografia de um repórter carioca,
uma cativante síntese da história
brasileira do pós-guerra e um manual de jornalismo.
Começando pelo último, Villas-Bôas discute logo de saída a ética
do jornalista, em particular a do
repórter político. Resume tudo
numa fórmula de madura simplicidade: "Ética é um imperativo do
caráter, que não se embaraça no
cipó das dúvidas".
O primeiro terço de "Conversa"
recorda com nostalgia os tempos
românticos do jornalismo pré-corporações que girava em torno
do Rio, capital da República
(1889-1960), quando era normal o
encadeamento de três turnos de
trabalho para fazer-se frente às
despesas familiares do mês.
Villas-Bôas lembra nada menos
que 54 anos de ofício, do "foca"
no extinto matutino "A Notícia"
ao atual colunista do "Jornal do
Brasil", com passagens, entre outros, pela sucursal carioca de "O
Estado de S. Paulo" e pela TV
Manchete.
No restante do livro, Corrêa
desmente involuntariamente a
sua própria fórmula modesta:
"Não faço história, conto o que
vi". Da queda do Estado Novo
(1945) à reeleição de FHC (1998),
eis aqui os episódios centrais, resumidos e analisados, da evolução política brasileira contemporânea.
São fascinantes as reconstituições de seus encontros, entre
muitos, com os presidentes Getúlio Vargas (1882-1954), Jânio Quadros (1917-1992) e João Batista Figueiredo (1918-1999) e com o governador paulista Adhemar de
Barros (1901-1969).
Seu Getúlio devolve humanidade ao mito. Sua distinção entre Jânio e Collor é definitiva. Se oriente, (e)leitor: renda-se ao prazer
desta conversa.
Conversa com a Memória
Autor: Villas-Bôas Corrêa
Editora: Objetiva
Quanto: R$ 36,90 (284 págs.)
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