|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LIVRO/LANÇAMENTO
"O DIA D - 6 DE JUNHO DE 1944"
Lançado em 94, best-seller de Stephen Ambrose trata de batalha na Segunda Guerra
Intelectual americano coleciona histórias do Dia D
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Stephen Ambrose é um dos
principais expoentes de um
tipo de produtor cultural que se
convencionou chamar nos EUA
de "intelectuais públicos". Originalmente professores universitários, esses acadêmicos se transformam em personalidades nacionais graças às suas constantes
aparições nos meios de comunicação de massa.
A fama de Ambrose começou
com o lançamento, em 1994, de
"O Dia D", que agora ganha edição brasileira. Celebrava-se o cinquentenário da invasão da Normandia, os EUA viviam fase próspera, sem maiores problemas que
pudessem ofuscar as celebrações
do que os americanos consideram a batalha que definiu a vitória
aliada na Segunda Guerra.
Escrito em linguagem coloquial,
"O Dia D" é mais uma coleção de
histórias relatadas por sobreviventes da campanha de 6 de junho de 1944 do que um trabalho
historiográfico. No ambiente autocongratulatório reinante na
época, o livro de Ambrose, apesar
de volumoso, se tornou "best-seller" em questão de dias.
O autor, que fala com a mesma
vivacidade que marca seu estilo literário, começou a ser chamado
para entrevistas em emissoras de
TV e jornais para falar a respeito
do Dia D. Ele caiu na simpatia do
público, abriu um Museu Nacional do Dia D, tornou-se consultor
de Steven Spielberg na produção
de "O Resgate do Soldado Ryan" e
passou a publicar, mais proficuamente do que nunca, livros sobre
a Segunda Guerra Mundial.
Ambrose se tornou o historiador preferido do país, pelo menos
para os cidadãos comuns. Entre
os ex-colegas universitários, seu
prestígio caiu. Em parte, talvez,
por sentimentos compreensíveis
de inveja e ressentimento comumente dirigidos por intelectuais
contra um dos seus que alcança
grande sucesso financeiro.
Parte das críticas ao trabalho de
Ambrose a partir de "Dia D" é
fundamentada. O livro é interessante, bem escrito. Mas não traz
nada de original, que acrescente
algo ao conhecimento que já havia em relação à campanha da
Normandia. Além disso, deixa de
lado uma antiga polêmica sobre
se de fato ela foi, como querem os
EUA e a Grã-Bretanha, o lance
mais importante da luta contra o
Terceiro Reich de Hitler (ou se,
como preferem os russos, essa
condição pertence à vitória soviética em Estalingrado em 1943).
Apesar do desprezo de boa parte dos historiadores, a vida de intelectual público de Ambrose ia
bem até o início deste ano, quando foi acusado de plágio em seu
mais recente livro, "The Wild
Blue", em que conta a história de
um grupo de aviadores americanos que lutaram nos céus da Alemanha na Segunda Guerra.
Obrigado a reconhecer que havia usado sem citar trechos de um
outro trabalho sobre o mesmo assunto, Ambrose viu aparecerem
alegações similares em relação a
seis de seus 35 livros. Entre elas,
foi desenterrada uma de 1970, feita por Cornelius Ryan, autor de
"O Mais Longo dos Dias", o mais
famoso livro sobre o Dia D antes
do aparecimento do de Ambrose.
Ao contrário de sua colega Doris Kearns Goodwin, que se afastou da vida pública ao ser flagrada
em plágio, Ambrose se manteve
na ribalta, inclusive como produtor de um novo filme com Spielberg ("Price for Peace") até que
um câncer diagnosticado em
maio deste ano o obrigou a desacelerar o ritmo de suas atividades.
"O Dia D" comprova o talento
de escritor de Stephen Ambrose,
mas também revela o risco que
corre o acadêmico que prefere o
caminho dos "intelectuais públicos": as excessivas concessões que
faz para agradar a milhões de leitores quase sempre debilitam a
qualidade científica do trabalho e,
com frequência, aumentam a
possibilidade de erros intencionais ou não em citações de fontes,
que acabam justificando acusações de plágio.
Carlos Eduardo Lins da Silva é diretor-adjunto de Redação do jornal "Valor Econômico"
O Dia D - 6 de Junho de 1944
D-Day - June 6 1944
Autor: Stephen E. Ambrose
Tradutor: Múcio Bezerra
Editora: Bertrand Brasil
Quanto: R$ 59 (756 págs.)
Texto Anterior: "Conversa com a Memória": Mestre recorda 50 anos de jornalismo Próximo Texto: Música: Eminem é o grande premiado do VMA Índice
|