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Arquitetos questionam Bienal "pop" deste ano
Evento deixa de lado nomes celebrados
e destaca projetos de Copa do Mundo
Bienal terá grafites,
playground e ênfase em
prédios sustentáveis; a dois
meses do início, ainda não
há definição de convidados
MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma Bienal de Arquitetura
pontuada por grafites, um playground para crianças, com ênfase em projetos sustentáveis e
marcada por exibir propostas
da área para dois eventos esportivos no país -a Copa do
Mundo, no ano de 2014, e os Jogos Olímpicos pleiteados pelo
Rio, em 2016.
Mas também uma Bienal
sem salas de grandes nomes da
arquitetura mundial, com enxugamento de projetos expostos e indefinição de convidados
a dois meses de sua realização.
A 8ª Bienal Internacional de
Arquitetura, que começa em 31
de outubro e segue até 6 de dezembro no parque Ibirapuera,
em São Paulo, teve recentemente sua programação lançada pela seção paulista do IAB
(Instituto de Arquitetos do
Brasil) e não obteve uma boa
aprovação por profissionais ouvidos pela Folha.
"Quero fazer uma Bienal
pop, aproximá-la do público.
Quero que as crianças vejam as
maquetes dos estádios da Copa
no Brasil e se empolguem, tragam os pais e amigos", resume
o curador da exposição, Bruno
Padovano, 58, professor da
FAU-USP. "Nas outras edições,
havia muita gente do meio, mas
os espaços ficavam às moscas
durante a semana."
Assim, a edição que tem como tema Ecos Urbanos foi
montada por Padovano para
privilegiar dois megaeventos
esportivos no Brasil, a Copa do
Mundo e os Jogos Olímpicos
(esse ainda apenas uma candidatura), e seu impacto no urbanismo das grandes cidades.
Na tentativa de ser mais popular, grafites serão espalhados
pelas quatro divisões propostas
pela Bienal, uma das quais é dedicada à sustentatibilidade.
Nesse setor, vai ser criado um
grande playground.
O curador também não fechou o número de projetos a
serem expostos, mas quer exibir menos do que os 1.200
apresentados na edição passada. "Não haverá espaços atulhados de croquis e desenhos."
Workshops semanais frequentados por profissionais da
área vão propor projetos para
as cidades-sede da Copa. "É o
cerne da Bienal. É algo concreto sobre um evento que mudará as cidades por onde passar."
Propostas concretas
A ênfase nas grandes competições e sua ligação na rede urbana é elogiada por Ruy Ohtake, 70. "É só lembrar do exemplo de Barcelona, que renasceu
depois dos Jogos Olímpicos,
em 1992, a partir de um ótimo
plano de urbanismo."
"A ideia de discutir grandes
equipamentos e infraestrutura
urbana a propósito da Copa-2014 é um acerto. Grande parte
do futuro das cidades brasileiras dependerá muito dessas
iniciativas", afirma o crítico
Guilherme Wisnik, 36.
No entanto, Wisnik não
aprova integralmente o modelo
proposto como Padovano. "As
Bienais de Arquitetura vêm
perdendo a representatividade,
assim como as Bienais de arte
também. São cada vez mais
eventos improvisados, feitos às
pressas e com pouca capacidade de articular conceitos e estratégias de modo mais eficaz."
Para o professor da USP São
Carlos Renato Anelli, 50, o próprio modo de exibir arquitetura
vive uma crise.
"As formas de exposição são
hoje o centro de uma discussão
sobre a relação entre o público
leigo e a produção cultural. Os
cenógrafos tomaram o espaço
da expografia, até há pouco disputada por arquitetos de peso,
como Lina Bo Bardi", diz ele.
"Assim, mostrar arquitetura
para um público de massa é tão
difícil como mostrar arte."
Vencedor do prêmio principal na Exposição Geral dos Arquitetos na Bienal passada,
Marcelo Ferraz, 53, vê com pessimismo a próxima edição.
"A palavra sustentabilidade
deveria ser proibida por um
tempo nessa área. Toda boa arquitetura é sustentável. Acho
um equívoco uma Bienal se ancorar nisso", diz ele. "E não vi
nada no programa sobre habitação, um tema essencial para
discussão no Brasil."
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