São Paulo, segunda-feira, 31 de agosto de 2009

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Arquitetos questionam Bienal "pop" deste ano

Evento deixa de lado nomes celebrados e destaca projetos de Copa do Mundo

Bienal terá grafites, playground e ênfase em prédios sustentáveis; a dois meses do início, ainda não há definição de convidados

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma Bienal de Arquitetura pontuada por grafites, um playground para crianças, com ênfase em projetos sustentáveis e marcada por exibir propostas da área para dois eventos esportivos no país -a Copa do Mundo, no ano de 2014, e os Jogos Olímpicos pleiteados pelo Rio, em 2016.
Mas também uma Bienal sem salas de grandes nomes da arquitetura mundial, com enxugamento de projetos expostos e indefinição de convidados a dois meses de sua realização.
A 8ª Bienal Internacional de Arquitetura, que começa em 31 de outubro e segue até 6 de dezembro no parque Ibirapuera, em São Paulo, teve recentemente sua programação lançada pela seção paulista do IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil) e não obteve uma boa aprovação por profissionais ouvidos pela Folha.
"Quero fazer uma Bienal pop, aproximá-la do público. Quero que as crianças vejam as maquetes dos estádios da Copa no Brasil e se empolguem, tragam os pais e amigos", resume o curador da exposição, Bruno Padovano, 58, professor da FAU-USP. "Nas outras edições, havia muita gente do meio, mas os espaços ficavam às moscas durante a semana."
Assim, a edição que tem como tema Ecos Urbanos foi montada por Padovano para privilegiar dois megaeventos esportivos no Brasil, a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos (esse ainda apenas uma candidatura), e seu impacto no urbanismo das grandes cidades.
Na tentativa de ser mais popular, grafites serão espalhados pelas quatro divisões propostas pela Bienal, uma das quais é dedicada à sustentatibilidade. Nesse setor, vai ser criado um grande playground.
O curador também não fechou o número de projetos a serem expostos, mas quer exibir menos do que os 1.200 apresentados na edição passada. "Não haverá espaços atulhados de croquis e desenhos."
Workshops semanais frequentados por profissionais da área vão propor projetos para as cidades-sede da Copa. "É o cerne da Bienal. É algo concreto sobre um evento que mudará as cidades por onde passar."

Propostas concretas
A ênfase nas grandes competições e sua ligação na rede urbana é elogiada por Ruy Ohtake, 70. "É só lembrar do exemplo de Barcelona, que renasceu depois dos Jogos Olímpicos, em 1992, a partir de um ótimo plano de urbanismo."
"A ideia de discutir grandes equipamentos e infraestrutura urbana a propósito da Copa-2014 é um acerto. Grande parte do futuro das cidades brasileiras dependerá muito dessas iniciativas", afirma o crítico Guilherme Wisnik, 36.
No entanto, Wisnik não aprova integralmente o modelo proposto como Padovano. "As Bienais de Arquitetura vêm perdendo a representatividade, assim como as Bienais de arte também. São cada vez mais eventos improvisados, feitos às pressas e com pouca capacidade de articular conceitos e estratégias de modo mais eficaz."
Para o professor da USP São Carlos Renato Anelli, 50, o próprio modo de exibir arquitetura vive uma crise.
"As formas de exposição são hoje o centro de uma discussão sobre a relação entre o público leigo e a produção cultural. Os cenógrafos tomaram o espaço da expografia, até há pouco disputada por arquitetos de peso, como Lina Bo Bardi", diz ele. "Assim, mostrar arquitetura para um público de massa é tão difícil como mostrar arte."
Vencedor do prêmio principal na Exposição Geral dos Arquitetos na Bienal passada, Marcelo Ferraz, 53, vê com pessimismo a próxima edição.
"A palavra sustentabilidade deveria ser proibida por um tempo nessa área. Toda boa arquitetura é sustentável. Acho um equívoco uma Bienal se ancorar nisso", diz ele. "E não vi nada no programa sobre habitação, um tema essencial para discussão no Brasil."


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