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28ª MOSTRA DE CINEMA
"A Casa Vazia" depura o talento autoral de Kim Ki-duk com narrativa elíptica e poucos diálogos
Cineasta coreano registra invisibilidade dos seres à margem
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Numa cidade sul-coreana,
um jovem vagabundo de
classe média (Hee Jae) invade residências cujos donos estão viajando e se instala nelas por uma
ou duas noites.
Não é um sem-teto comum,
muito menos um ladrão. Trafega
pela cidade com uma possante
moto BMW e não rouba nada das
casas. Pelo contrário: realiza nelas
pequenos trabalhos, como lavar
roupa ou consertar relógios e aparelhos quebrados.
Seu método é simples e engenhoso: ele pendura um folheto de
telepizza no trinco da porta da casa em vista e volta no dia seguinte
para conferir. Se o papel continuar lá, é sinal de que a casa está
realmente vazia.
Certo dia, numa mansão invadida, o rapaz encontra uma bela
modelo (Seung-yeon Lee) que tinha acabado de tomar uma surra
do marido prepotente. Sem falar
uma palavra, os dois jovens se entendem. Ela abandona o marido e
acompanha o jovem nas invasões
de casas.
A partir desse momento, o longa-metragem "A Casa Vazia"
-escrito, dirigido, produzido e
montado por Kim Ki-duk-
abandona a insólita secura narrativa de seu início e embarca num
romantismo um tanto afetado,
que chega às raias do realismo
fantástico quando o protagonista
assume ares de herói de mangá.
Aquilo que até então era apenas
metafórico -a condição espectral do protagonista, sua invisibilidade social- se torna quase literal, e o tom se desloca do poético
para o sobrenatural.
O filme, que ganhou um prêmio
especial de direção no último Festival de Veneza, lembra bastante
"Vive l'Amour" (1994), de Tsai
Ming-liang, exibido na 23ª Mostra de São Paulo.
Ambos tratam de personagens à
margem, "invisíveis", que se encontram em casas vazias, mas
Ming-liang é mais cáustico, cético
e sem concessões.
Apesar disso, ou talvez por isso
mesmo, "A Casa Vazia" é um filme mais agradável de ver. Com
sua narrativa elíptica e sem diálogos, sobretudo em sua primeira
metade, confirma e depura o talento autoral de Ki-duk, de quem
a Mostra de São Paulo já exibiu "A
Ilha" (2000) e "Endereço Desconhecido" (2001).
A Casa Vazia
Bin Jip
Direção: Kim Ki-duk
Produção: Coréia do Sul, 2004
Quando: sessões amanhã e dia 3
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