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"Delamu" é um documentário filmado na fronteira entre o Tibete e a China, na radiografia de uma antiga rota comercial no meio das montanhas. Seguindo uma caravana, Tian Zhuangzhuang visita vilarejos e ouve habitantes.
O filme trabalha um pacote de imagens e relatos que dizem algo sobre a vida em um "parque temático" de simulação do passado. Forte impressão de mundo perdido, em que ninguém chega e ninguém sai, é desenhada via olhares plácidos de Zhuangzhuang para composições paisagísticas que parecem brincadeiras de Deus.
Em geral, costumes e dispositivos (veículos, por exemplo) se conjugam para formar um universo "artificial" e arcaico de ilusão, estruturado no mais alto significado da palavra "história", o que altera, às vezes, o registro do filme e o faz resvalar no fantástico.
Assim, leituras curiosas surgem quando pensamos em "A Vila". Nos dois filmes há um cárcere histórico. Há também "dramatização" real em mundos esquecidos pelo tempo e regime cotidiano lento e anacrônico, dados oxigenados pela idéia de isolamento.
Em "A Vila", o mito bíblico da criação e o horror separam as pessoas do mundo. Em "Delamu", este cabo cortado é uma questão de geografia, mas também autoritária e meio amedrontadora. Ironicamente, passa pela câmera uma menina que se diz louca por filmes "norte-americanos de gângsteres".
Interesse há em como o diretor manipula as memórias e causos das pessoas que encontra. A intenção "oficial" aparentemente é atingir essa idéia de mundo paralelo, na investigação de uma cultura sagrada e estanque de viajantes e na observação da trajetória política e religiosa da região.
Porém os relatos guardam coisas humanas universais como a dor causada pela perda do amor, a solidão e o fracasso afetivo. No mais, grandes temas, anômalos em um documentário visualmente calcado no caótico espaço físico e nos desequilíbrios da história.
(CLAUDIO SZYNKIER)

Delamu
Cha Ma Gu Dao Xi Lie
   
Direção: Tian Zhuangzhuang
Produção: Japão/China, 2004
Quando: sessões dias 2, 3 e 4