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"OLD BOY"
Exagero e brutalidades imprimem atordoante dose de energia humana
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Foi só o cinema asiático dar alguns poucos sinais de cansaço, lá pelo fim dos anos 90, que se
vaticinou o fim da "onda asiática"
e a emergência da "onda latina".
Conclusão precipitada. Com talentos genuínos, porém isolados,
o cinema latino não conseguiu
produzir uma palheta tão rica em
escopo e tonalidades quanto a dos
países do extremo Oriente.
A Coréia do Sul é um dos países
responsável pela manutenção da
vitalidade asiática. No último Festival de Cannes, foi destaque absoluto da competição com "A
Mulher É o Futuro do Homem",
de Hong Sang-soo, e "Old Boy",
de Park Chan-wook. Este ganhou
o Grande Prêmio do Júri.
"Old Boy" não é para todos os
estômagos, tamanha é a brutalidade de certas seqüências. Mas o
exagero faz parte da concepção
central de Park Chan-wook e é
preciso aceitá-lo como condição
do filme. Um exagero que não se
constitui como um estilo ou uma
coreografia. Ele é orgânico ao tom
melodramático (tão próximo a
Nelson Rodrigues) e ao desenrolar trágico da situação proposta
(basicamente uma vingança).
Park Chan-wook não obtém resultados uniformes. É um diretor
oscilante em ritmo e em coerência. Mas essa incapacidade de ser
perfeito imprime uma atordoante
dose de energia humana ao filme.
Se há cenas sanguinolentas e pancadaria, elas servem para dar corporalidade ao personagem principal, Oh Dae-su. Sua dor e sua
angústia são também a dor e a angústia do espectador. No começo
do filme, Oh Dae-Su é seqüestrado e levado para um quarto isolado. Depois de 15 anos, sem fazer
idéia do motivo do seqüestro, é libertado. Terá cinco dias para descobrir a razão de seu confinamento. Se for bem-sucedido, seu algoz
se mata; se não, quem morre é ele.
Livre, Oh Dae-su entra num restaurante e pede para comer algo
vivo. O garçom lhe oferece um
polvo, cujos tentáculos ainda se
mexem enquanto é devorado. Oh
Dae-su, basicamente, é este animal preso em uma situação sem
saída, debatendo-se para escapar
dela. Uma figura trágica absurdamente contemporânea, que se recusa a aceitar aquilo que se apresenta como destino irremediável.
Old Boy
Direção: Park Chan-wook
Produção: Coréia do Sul, 2004
Quando: hoje, às 23h30, no Espaço
Unibanco (última sessão amanhã)
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