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ARTES PLÁSTICAS
Exposição na Itália, com telas recém-atribuídas ao pintor, reflete final trágico de mestre do chiaroscuro
Mostra reúne pela 1ª vez últimas obras de Caravaggio
KELLY VELÁSQUEZ
DA FRANCE PRESSE, EM NÁPOLES
As últimas obras do grande
mestre italiano Caravaggio (1573-1610), cujo realismo e crueza revolucionaram a pintura do século
17, estão no Museo Capodimonte,
de Nápoles, em uma mostra que
deixa intuir o final trágico de um
dos pais da arte européia.
Sob o título "Caravaggio, Últimos Anos, 1606-1610", estão reunidas pela primeira vez em exposição 20 obras-primas do artista,
nove cópias de versões perdidas e
cinco pinturas recentemente atribuídas a ele, realizadas nos quatro
anos finais de sua vida, depois de
ter fugido de Roma por ter assassinado um companheiro de jogo
de cartas em uma briga de rua.
A mostra, que ficará no museu
até o dia 23 de janeiro de 2005 e
depois segue para a National Gallery de Londres, é na realidade
um percurso impressionante e de
enorme força pictórica, no qual a
criatividade surge como arma salvadora do artista, que morreu de
malária aos 37 anos, depois de
uma vida passada em antros.
"Criar arte era o único instrumento capaz de resgatá-lo. Nos
seus últimos anos de vida, pintou
cerca de 40 quadros, mas só a metade dos trabalhos é conhecida.
Obras de grandes dimensões, pintadas com a esperança de obter o
favor e o perdão do papa", diz Nicola Spinosa, curador da mostra.
Depois de fugir de Roma, Michelangelo Merisi, o Caravaggio,
se refugiou em Nápoles e depois
em Malta, onde pintou quadros
enormes, intensos e espetaculares, entre os quais o retrato de
Alof de Wignacourt, grande mestre da Ordem de Malta, incluído
na exposição de Nápoles.
Em Malta, Caravaggio voltou a
se envolver em uma briga e, por
isso, teve de fugir de novo da prisão e regressar à Itália, para a Sicília, onde lhe foram encomendadas cinco obras, as quais constam
da exposição no museu napolitano depois de terem sido recentemente atribuídas ao pintor.
"É um pintor de cérebro enfermo, que se aproxima das pessoas
vestido e armado", escreveu Niccolo Giovanni, um nobre siciliano
para quem Caravaggio pintou um
"Ecce Homo", parte de uma coleção privada e exibido pela primeira vez ao público nesta mostra.
Entre as últimas criações do
grande mestre do chiaroscuro,
cujo estilo atrevido e cru se converteu em ícone da arte, poucas
estão ausentes, como "João Batista Degolado", quadro roubado
em Palermo em 1969 e exibido na
mostra em forma de cópia pintada por Paolo Gerasi em 1627.
No mesmo período, o artista renunciou às cores chamativas e começou a empregar uma linguagem mais simplificada, abrindo
mais espaço à obscuridade e a detalhes de rostos, mãos, expressões, momentos especiais.
Período que viu surgir quadros
como "Anunciação", do Museu
de Belas Artes de Nancy (França),
"Davi com a Cabeça de Golias",
da Galeria Borghese (Roma), "A
Negação de Pedro", do Metropolitan (NY), telas agora reunidas e
cuja tinta ainda nem havia secado
quando Caravaggio decidiu partir
de volta a Roma acreditando que
seria perdoado pelo papa.
Reza a lenda que o mestre, alquebrado pela febre, só morreu
nos pântanos de Porto Ercole, a
poucos quilômetros de Roma.
Trazia embaixo do braço dois
óleos, um retrato da Virgem e
Madalena e um de são João Batista, ambos destruídos por urubus.
Tradução de Paulo Migliacci
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