São Paulo, terça-feira, 31 de outubro de 2006

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"Noel" é meu "Fitzcarraldo" pessoal", diz diretor

DA REPORTAGEM LOCAL

O diretor Ricardo Van Steen reconhece que fez "Noel - Poeta da Vila", seu primeiro longa-metragem, na contramão do mercado. Deliberadamente.
Dos amigos e/ou especialistas em cinema a quem mostrou seu roteiro, Van Steen ouviu avaliações negativas. "Todo mundo dizia que não estava bom. Se eu fizesse a opção de me aproximar de um distribuidor naquele momento, implicaria necessariamente refazer tudo com alguém indicado por ele. E eu não queria", conta.
Delegar o filme ao crivo de terceiros, para Van Steen, seria abrir mão de seu propósito com o filme. ""Noel - Poeta da Vila" é arte. Não é uma encomenda, Não é para atender demandas. É meu "Fitzcarraldo" pessoal", diz, citando o longa que resultou da odisséia de Werner Herzog pela Amazônia, nos anos 80. Van Steen levou dez anos para viabilizar seu filme, com R$ 4,5 milhões, obtidos por meio das leis de renúncia fiscal. Ele diz que o filme não tem a pretensão de "renovar a linguagem do cinema", mas traz o empenho de "encontrar imagens à altura da poesia do Noel".
Ainda sem distribuidor, o cineasta planeja lançar o longa até maio do ano que vem, quando se completam 70 anos da morte de Noel Rosa (1910-1937). "Não posso pensar em não estrear", diz. Com a participação em festivais -o longa esteve no Festival do Rio, neste mês, antes da competição na Mostra de SP- o cineasta quer provar que "Noel - Poeta da Vila" é "um filme de público".
A aprovação popular, na opinião de Van Steen, confirma a volta por cima das avaliações iniciais, que apontavam o fracasso do projeto e acabaram servindo para que ele aperfeiçoasse à exaustão tanto o roteiro quanto a montagem do filme. O resultado final, diz, traduz "a força do presumido contra o poder da mão na massa".
Van Steen e Jorge Durán, diretor de "Proibido Proibir", feito com R$ 1,1 milhão e que também está sem contrato de distribuição, negociam atualmente com distintas empresas o lançamento de seus filmes.
"Esse fantasma [do engavetamento] se afastou um pouco", diz Durán. O cineasta brasileiro de origem chilena vê certo "exagero" na proposta de Rodrigo Saturnino Braga, da Columbia, de impedir o início de filmagens de projetos sem distribuição garantida. Mas diz que "ele tem razão que é melhor contar com um distribuidor desde a partida [do filme]".
Muito embora observe que uma distribuição garantida não seja sinônimo de sucesso. "Os distribuidores apostam em filmes que às vezes não dão em nada. Não é porque vão distribuir que você tem a segurança de que irá funcionar." (SA)


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