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"Noel" é meu "Fitzcarraldo" pessoal", diz diretor
DA REPORTAGEM LOCAL
O diretor Ricardo Van Steen
reconhece que fez "Noel - Poeta
da Vila", seu primeiro longa-metragem, na contramão do
mercado. Deliberadamente.
Dos amigos e/ou especialistas em cinema a quem mostrou
seu roteiro, Van Steen ouviu
avaliações negativas. "Todo
mundo dizia que não estava
bom. Se eu fizesse a opção de
me aproximar de um distribuidor naquele momento, implicaria necessariamente refazer
tudo com alguém indicado por
ele. E eu não queria", conta.
Delegar o filme ao crivo de
terceiros, para Van Steen, seria
abrir mão de seu propósito com
o filme. ""Noel - Poeta da Vila" é
arte. Não é uma encomenda,
Não é para atender demandas.
É meu "Fitzcarraldo" pessoal",
diz, citando o longa que resultou da odisséia de Werner Herzog pela Amazônia, nos anos
80. Van Steen levou dez anos
para viabilizar seu filme, com
R$ 4,5 milhões, obtidos por
meio das leis de renúncia fiscal.
Ele diz que o filme não tem a
pretensão de "renovar a linguagem do cinema", mas traz o empenho de "encontrar imagens à
altura da poesia do Noel".
Ainda sem distribuidor, o cineasta planeja lançar o longa
até maio do ano que vem, quando se completam 70 anos da
morte de Noel Rosa (1910-1937). "Não posso pensar em
não estrear", diz. Com a participação em festivais -o longa esteve no Festival do Rio, neste
mês, antes da competição na
Mostra de SP- o cineasta quer
provar que "Noel - Poeta da Vila" é "um filme de público".
A aprovação popular, na opinião de Van Steen, confirma a
volta por cima das avaliações
iniciais, que apontavam o fracasso do projeto e acabaram
servindo para que ele aperfeiçoasse à exaustão tanto o roteiro quanto a montagem do filme. O resultado final, diz, traduz "a força do presumido contra o poder da mão na massa".
Van Steen e Jorge Durán, diretor de "Proibido Proibir", feito com R$ 1,1 milhão e que também está sem contrato de distribuição, negociam atualmente com distintas empresas o
lançamento de seus filmes.
"Esse fantasma [do engavetamento] se afastou um pouco", diz Durán. O cineasta brasileiro de origem chilena vê certo "exagero" na proposta de Rodrigo Saturnino Braga, da Columbia, de impedir o início de
filmagens de projetos sem distribuição garantida. Mas diz
que "ele tem razão que é melhor contar com um distribuidor desde a partida [do filme]".
Muito embora observe que
uma distribuição garantida não
seja sinônimo de sucesso. "Os
distribuidores apostam em filmes que às vezes não dão em
nada. Não é porque vão distribuir que você tem a segurança
de que irá funcionar."
(SA)
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