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Crítica/"Notícias do Lar/Notícias de Casa"
Gitaï explora a diáspora palestina e o desgaste do conflito no Oriente Médio
CRÍTICO DA FOLHA
Ao olhar apressado do espectador da Mostra (ou
de qualquer outro: o espectador sempre quer respostas imediatas), "Notícias do
Lar/Notícias de Casa" pode parecer um filme decepcionante.
Afinal, nos dois primeiros filmes da série sobre uma casa em
Jerusalém, o de 1980 e o de
1989 serviram à perfeição para
situar certos aspectos do conflito palestino-israelense. A casa em questão representava a tomada da cidade pelos israelenses e a destituição da população palestina, a partir de
1948. Na visão de Amos Gitaï,
diretor dos três filmes, a casa
sintetiza um processo pelo qual
a convivência entre os dois povos, num mesmo espaço, tornou-se uma hipótese remota.
Quando Gitaï retorna ao
mesmo local, em 2005, as coisas parecem bem mudadas.
Não só o entorno e os anexos
em construção. Logo no início,
Gitaï faz um longo travelling
pelo muro que o então premiê
Sharon mandou construir, para
separar os dois mundos. Estranho monumento que consagra
a separação dos dois povos e foi
recebido sem grandes protestos de nenhuma parte.
No filme, o ambiente é similar. Tomemos o médico palestino que, no passado, lamentava a perda da casa e a impossibilidade de reavê-la. Seu discurso
não mudou. A tristeza continua, mas agora ele está instalado e bem. Sua sobrinha (neta?-tanto faz) cresceu e parece
nem se preocupar com o tema.
Do lado israelense, a ocupante da casa, uma senhora que
veio da Turquia, lamenta pelos
antigos habitantes e diz que a
história aconteceu assim. Não
há como mudá-la. A diáspora
palestina acentuou-se. As pessoas espalham-se em cidades e
países próximos. Não parecem
mais os refugiados do passado.
Em poucas palavras, "Notícias do Lar" parece nos falar de
um conflito que declina, menos
por as partes terem chegado a
um tipo de acordo aceitável a
ambos, e mais por uma espécie
de exaustão. A memória do momento inicial, 1948, aos poucos
se apaga. Resta saber se novas
lembranças sangrentas não
tendem a tomar seu lugar.
Em todo caso, o filme confirma a
impressão de que, a despeito
dos radicais de parte a parte,
não há saída para palestinos e
israelenses a não ser a paz. Se
vão construí-la doentia ou saudável é uma das questões que o
filme de Amos Gitaï deixa no ar.
(INÁCIO ARAUJO)
NOTÍCIAS DO LAR/NOTÍCIAS DE CASA
Direção: Amos Gitaï
Onde: hoje, às 15h40, na Sala UOL
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