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Crítica
Charlie Haden encerra Tim com show inesquecível
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quem ficou até o final
não se arrependeu. O
baixista norte-americano Charlie Haden e seu
Quartet West fizeram um show
inesquecível, encerrando a edição paulista do Tim Festival
que ocupou o Auditório Ibirapuera, na madrugada de ontem.
Haden, o saxofonista Ernie
Watts e o pianista Alan Broadbent criaram o Quartet West há
20 anos -fato que ajuda a explicar a impressionante interação entre os músicos-, que inclui o baterista Rodney Green.
Juntos, cultivam o melhor no
jazz moderno, sem abrir mão
de elementos da vanguarda.
Não à toa, Haden escolheu
para o repertório duas composições de Ornette Coleman,
pioneiro do "free jazz", ao qual
se associou, no final dos anos
50. Além do saboroso calipso
"The Good Life", lembrou a dissonante "Lonely Woman", que
incluiu um solo de ascendência
erudita de Broadbent, bastante
aplaudido pela platéia.
Outro destaque foi a emocionante versão da balada "First
Song", uma das obras-primas
de Haden. Em solo sem acompanhamento, que deixou a platéia sem respiração, Watts
combinou beleza sonora, sentimento e técnica de fazer inveja
a qualquer instrumentista.
Mesmo os fãs mais antigos de
Haden não devem ter se decepcionado. Recriando uma pérola
do bebop, como "Passport"
(Charlie Parker), ou tocando
composições próprias, o jazzista achou uma forma de atingir
um público mais amplo, tocando música de alta qualidade.
A noite começou muito bem
com o trio de André Mehmari.
O pianista paulista exibiu seu
dom de improvisador, criando
versões jazzísticas para clássicos da MPB, como "Chovendo
na Roseira" (Tom Jobim) e
"Cravo e Canela" (Milton Nascimento). Também convidou
Ná Ozzetti para cantar "Round
Midnight" (Monk), na versão
"paulistana" de Luiz Tatit.
Já o trompetista Roy Hargrove centrou sua apresentação no
repertório de seu novo álbum.
Cobrindo um leque variado de
estilos, tocou o pós-bebop "The
Gift", a balada "Trust" e a salsa
"Nothing Serious", mas o clímax veio só no bis. A clássica
"Invitation" (Bronislau Kaper)
jamais foi improvisada de maneira tão frenética.
Com exceção da cantora Jennifer Sanon, crua demais para
um evento como este, a programação jazzística deste Tim terminou com saldo bem positivo, a começar pelos pianistas Ahmad Jamal e Stefano Bollani.
Herbie Hancock ficou devendo
um show mais empolgante,
mas as apresentações de Maria
Schneider e Charlie Haden não
serão esquecidas tão cedo.
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