São Paulo, terça-feira, 31 de outubro de 2006

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Crítica

Charlie Haden encerra Tim com show inesquecível

CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quem ficou até o final não se arrependeu. O baixista norte-americano Charlie Haden e seu Quartet West fizeram um show inesquecível, encerrando a edição paulista do Tim Festival que ocupou o Auditório Ibirapuera, na madrugada de ontem.
Haden, o saxofonista Ernie Watts e o pianista Alan Broadbent criaram o Quartet West há 20 anos -fato que ajuda a explicar a impressionante interação entre os músicos-, que inclui o baterista Rodney Green. Juntos, cultivam o melhor no jazz moderno, sem abrir mão de elementos da vanguarda.
Não à toa, Haden escolheu para o repertório duas composições de Ornette Coleman, pioneiro do "free jazz", ao qual se associou, no final dos anos 50. Além do saboroso calipso "The Good Life", lembrou a dissonante "Lonely Woman", que incluiu um solo de ascendência erudita de Broadbent, bastante aplaudido pela platéia.
Outro destaque foi a emocionante versão da balada "First Song", uma das obras-primas de Haden. Em solo sem acompanhamento, que deixou a platéia sem respiração, Watts combinou beleza sonora, sentimento e técnica de fazer inveja a qualquer instrumentista.
Mesmo os fãs mais antigos de Haden não devem ter se decepcionado. Recriando uma pérola do bebop, como "Passport" (Charlie Parker), ou tocando composições próprias, o jazzista achou uma forma de atingir um público mais amplo, tocando música de alta qualidade.
A noite começou muito bem com o trio de André Mehmari. O pianista paulista exibiu seu dom de improvisador, criando versões jazzísticas para clássicos da MPB, como "Chovendo na Roseira" (Tom Jobim) e "Cravo e Canela" (Milton Nascimento). Também convidou Ná Ozzetti para cantar "Round Midnight" (Monk), na versão "paulistana" de Luiz Tatit.
Já o trompetista Roy Hargrove centrou sua apresentação no repertório de seu novo álbum. Cobrindo um leque variado de estilos, tocou o pós-bebop "The Gift", a balada "Trust" e a salsa "Nothing Serious", mas o clímax veio só no bis. A clássica "Invitation" (Bronislau Kaper) jamais foi improvisada de maneira tão frenética.
Com exceção da cantora Jennifer Sanon, crua demais para um evento como este, a programação jazzística deste Tim terminou com saldo bem positivo, a começar pelos pianistas Ahmad Jamal e Stefano Bollani. Herbie Hancock ficou devendo um show mais empolgante, mas as apresentações de Maria Schneider e Charlie Haden não serão esquecidas tão cedo.


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