São Paulo, quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

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Livro revê 30 anos do Ornitorrinco

Grupo criado no porão do teatro Oficina buscou teatro comunicativo, sem abrir mão de crítica social

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O ornitorrinco desafia as leis da natureza. Tem cauda de castor, mas bico de pato. Ao se reproduzir, põe ovos, o que não o impede de amamentar seus filhotes. Indeciso, seu genoma aponta para três classes: mamíferos, aves e répteis. Também singular era o teatro que Cacá Rosset, Maria Alice Vergueiro e Luiz Roberto Galízia almejavam ao criar o Ornitorrinco, em 1977, em São Paulo. O trio não queria saber do teatrão de apelo comercial.
A cena underground, de alcance restrito, tampouco os atraía. O projeto era montar espetáculos populares, sim, sem abrir mão da provocação, da crítica social e de vernizes de erudição, como descreve o ator e diretor Hugo Possolo em um dos textos introdutórios do recém-lançado "Teatro do Ornitorrinco - 30 Anos".
Em 524 páginas, depoimentos de Rosset e Vergueiro (Galízia morreu em 1985) somam-se às impressões de figuras que ajudaram a moldar o grupo, como Rosi Campos, José Rubens Chachá e Christiane Tricerri (organizadora do livro).

Trajetória
Vergueiro e Rosset se conheciam da escola: ela havia sido professora dele e o dirigiu numa montagem de Molière. Mais tarde, na USP, inverteram papéis num Brecht. Galízia conheceu os dois na faculdade e comprou a ideia de um teatro anárquico, iconoclasta.
Fotos, cartazes, trechos de músicas entoadas em cena e fragmentos de diálogos fazem o inventário de uma trajetória que começou no porão do Oficina, com "Os Mais Fortes", trinca de peças de Strindberg.
Depois de Strindberg, veio um cabaré da dupla Brecht/ Weill e a projeção internacional com "Mahagonny", fábula dos mesmos autores sobre o poder desmedido do capital. "Ubu", de 1985, recriação de textos de Jarry com circo e farta contribuição da plateia, é o divisor de águas, colhendo prêmios pelo mundo e levando jovens de volta ao teatro.
Depois, viriam "O Doente Imaginário" (1989), de Molière, e a sedimentação da aclamação estrangeira com "Sonho de uma Noite de Verão" (1991) estreado em Nova York. O francês e o inglês se alternariam a partir dali na assinatura dos textos montados pela companhia ("O Avarento" e "Scapino", do primeiro, "A Comédia dos Erros" e "A Megera Domada", do segundo).


TEATRO DO ORNITORRINCO - 30 ANOS

Autor: Guy Correa (org. Christiane Tricerri)
Editora: Imprensa Oficial
Quanto: R$ 185 (524 págs.)


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