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Livro revê 30 anos do Ornitorrinco
Grupo criado no porão do teatro Oficina buscou teatro comunicativo, sem abrir mão de crítica social
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
O ornitorrinco desafia as leis
da natureza. Tem cauda de castor, mas bico de pato. Ao se reproduzir, põe ovos, o que não o
impede de amamentar seus filhotes. Indeciso, seu genoma
aponta para três classes: mamíferos, aves e répteis.
Também singular era o teatro que Cacá Rosset, Maria Alice Vergueiro e Luiz Roberto
Galízia almejavam ao criar o
Ornitorrinco, em 1977, em São
Paulo. O trio não queria saber
do teatrão de apelo comercial.
A cena underground, de alcance restrito, tampouco os atraía.
O projeto era montar espetáculos populares, sim, sem abrir
mão da provocação, da crítica
social e de vernizes de erudição,
como descreve o ator e diretor
Hugo Possolo em um dos textos introdutórios do recém-lançado "Teatro do Ornitorrinco - 30 Anos".
Em 524 páginas, depoimentos de Rosset e Vergueiro (Galízia morreu em 1985) somam-se
às impressões de figuras que
ajudaram a moldar o grupo, como Rosi Campos, José Rubens
Chachá e Christiane Tricerri
(organizadora do livro).
Trajetória
Vergueiro e Rosset se conheciam da escola: ela havia sido
professora dele e o dirigiu numa montagem de Molière.
Mais tarde, na USP, inverteram
papéis num Brecht. Galízia conheceu os dois na faculdade e
comprou a ideia de um teatro
anárquico, iconoclasta.
Fotos, cartazes, trechos de
músicas entoadas em cena e
fragmentos de diálogos fazem o
inventário de uma trajetória
que começou no porão do Oficina, com "Os Mais Fortes",
trinca de peças de Strindberg.
Depois de Strindberg, veio
um cabaré da dupla Brecht/
Weill e a projeção internacional com "Mahagonny", fábula
dos mesmos autores sobre o
poder desmedido do capital.
"Ubu", de 1985, recriação de
textos de Jarry com circo e farta contribuição da plateia, é o
divisor de águas, colhendo prêmios pelo mundo e levando jovens de volta ao teatro.
Depois, viriam "O Doente
Imaginário" (1989), de Molière,
e a sedimentação da aclamação
estrangeira com "Sonho de
uma Noite de Verão" (1991) estreado em Nova York. O francês e o inglês se alternariam a
partir dali na assinatura dos
textos montados pela companhia ("O Avarento" e "Scapino", do primeiro, "A Comédia
dos Erros" e "A Megera Domada", do segundo).
TEATRO DO ORNITORRINCO - 30
ANOS
Autor: Guy Correa (org. Christiane Tricerri)
Editora: Imprensa Oficial
Quanto: R$ 185 (524 págs.)
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