Crítica Documentário

Filme retrata devoção e sacrifícios de músicos

Dedicar a vida desde a infância a uma profissão que, se der certo, mal vai pagar o sustento pode soar, no mínimo, como um ideal antiquado.

O documentário "Prova de Artista", dirigido por José Joffily, acompanha os passos de pessoas que sacrificam o que a maioria considera o lado vantajoso do trabalho para se realizar numa profissão que parecerá vaga e frustrante.

Eles são jovens músicos postos à prova em seleções rigorosíssimas para tocar em orquestras e receber salários que jamais alcançarão o céu do consumo de luxo.

Para uns, o esforço bem-sucedido implica outras restrições, como ter de viver longe da família ou da namorada, aprender a escapar de armadilhas num ambiente de trabalho cheio de "traíras" e, mais difícil, não poder errar nem tocar num tom abaixo da perfeição.

Abnegação, dedicação e perfeccionismo são expressões recorrentes nas entrevistas com os cinco jovens músicos cujos percursos exemplificam etapas distintas do processo de profissionalização.

nômades

Uns vieram de cidades menores e são forçados ao nomadismo para alcançar oportunidades concentradas nas orquestras das capitais.

Outros, como um violinista norte-americano, migram e ficam perdidos nas paisagens e língua estranhas.

A fagotista mãe de um bebê precisa escolher se submeter a uma difícil seleção para a Osesp ou priorizar a vida pessoal.

Todos enfrentam a prova como um limiar entre a vida e a morte e têm de conseguir superar o nervosismo como se fossem super-homens.

Como já havia feito em "O Chamado de Deus" (2001) e "Vocação do Poder" (2005, este em co-direção com Eduardo Escorel), Joffily segue uma variação ao tema do talento.

Mas consegue ir além do preenchimento de sentidos para essa noção vaga ao registrar as forças que movem e demovem as inclinações individuais, em vez de demonstrar que seus personagens são reféns de um destino.

Mais que exemplificar uma tese de inclinação romântica, "Prova de Artista" destaca-se ao capturar o outro lado no momento do exame.

Gênios inatos ou não, mais ou menos capacitados, uma hora todos temos de enfrentar testes profissionais.

Por isso, de imediato nos identificamos com quem arrasa ou desafina.