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Crítica música clássica

Didático e erudito, Simonsen seduz leitor com textos sobre óperas famosas

JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Mario Henrique Simonsen (1935-1997) foi engenheiro, economista, professor de econometria e banqueiro. Ocupou também, durante o regime militar, os ministérios da Fazenda e do Planejamento. Mas do que ele realmente gostava era de ópera.

E não como um simples amador. Tinha erudição, bom gosto e profundos conhecimentos técnicos. Esse talento, para quem se lembra, esteve nas críticas de música erudita que ele publicou entre 1982 e 1991 na revista "Veja". Eram textos com muito didatismo, numa catequese para seduzir jovens e adultos.

Antes de morrer, Simonsen se propôs a escrever opúsculos para as dez óperas que considerava fundamentais. Concluiu apenas três: "Don Giovanni", de Mozart, "Tristão e Isolda", de Wagner, e "Otello", de Giuseppe Verdi.

Esses estudos, somados a uma introdução histórica, ao todo 172 páginas, foram reunidos pela Insight Engenharia de Comunicação e publicados, com CDs de excelentes versões integrais, pela mineradora Vale. Não é uma edição comercializada. Mas os textos e trechos musicais podem ser acessados pelo site www.insightnet.com.br/operasimonsen.

Vejamos "Tristão e Isolda", em que "Wagner transforma um romance medieval cheio de peripécias e baixa voltagem psicológica no mais belo e sofisticado pacto de morte da literatura".

Simonsen disseca na música wagneriana os motivos temáticos. É gratificante vê-lo identificar no 65º compasso do prelúdio o motivo da liberação pela morte, que reaparece na terceira cena, no final do primeiro ato e no momento da morte do herói.

Em "Otello", Simonsen faz um atraente paralelo entre o libreto de Arrigo Boito e o drama de Shakespeare no qual ele se baseou. A ópera tem apenas um quarto dos versos do original. Além do corte de um ato, há aquilo que não é dito por palavras, mas subtendido por meio da música.

Nesse ponto o autor dá uma aula de musicologia e discorre sobre irresolução tonal, modulações ou escala diatônica. São expressões para iniciados que ele introduz com didáticas explicações.

Com relação a "Don Giovanni", ao lado de toda uma terminologia técnica, Simonsen é hilariante ao notar que um dos personagens, Masetto, é perseguido pela orquestração de trompas, que em italiano é sinônimo de corno (o sedutor de Sevilha quer o corpo de Zerlina, noiva dele).

O ensaio faz também uma leitura curiosíssima sobre o personagem de Donna Anna, que é ultrajada porque Don Giovanni matou seu pai e "defendida" por um noivo sem o temperamento para a vingança. O problema é saber se o sedutor manteve com ela relações carnais.

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ÓPERA POR SIMON­SEN

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