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O livro aberto de Chico

Falastrão até os anos 1980, compositor ganha almanaque que remonta sua vida por meio de documentos, manuscritos e entrevistas

MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

"Sem muita bossa pra essa história de autobiografia, vou contando. Nasci no Rio. Vim cedo pra São Paulo. Estudo na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, terceiro ano. Não sei se vou ser arquiteto. Nem sei se vou ser músico. Sei que toco. Canto. E a canção é tudo."

Chico Buarque tinha 21 anos quando deu essa declaração ao "Diário da Noite", Era 1965 e, embora não tivesse "bossa para autobiografia", não se escondia, como faz hoje, de falar publicamente sobre a música e a vida.

Estampava capas de revistas de todos os perfis, como "Fatos e Fotos", "Amiga", "Realidade", "Manchete", "O Cruzeiro" e até "Romântica".

E não se reprimia ao confessar, por exemplo, que, depois de três filhas mulheres, precisa de um menino para herdar seu campo de futebol.

Essas entrevistas históricas, mais um punhado de cartas, manuscritos e documentos pessoais, compõem o almanaque "Para Seguir Minha Jornada", de Regina Zappa.

Não por acaso, 80% do volume enfoca os anos 1960 e os 1970, tempo em que o compositor falava à imprensa.

Zappa é íntima da história do compositor. Antes, escreveu "Chico Buarque para Todos", em 1999, e "Cancioneiro Chico Buarque", em 2008.

"Não sou amiga dele", diz. "Temos relação profissional. Mando e-mail e ele responde, telefono e ele atende."

Amizade, Zappa mantém com Miúcha, irmã de Chico. E, acompanhando a amiga na morte de Cecília, tia dela, descobriu a maior parte do material que incluiu no livro.

"Fui com Miúcha à casa dela e, lá, encontramos esses recortes de jornais e revistas. Ela colecionava tudo sem que a família soubesse. Trouxe tudo para casa", lembra.

Ali se revelou um Chico que falava sobre tudo -das comparações entre ele e Noel Rosa, nos 1960, a temas como drogas e álcool, nos 1980.

"Jamais assumirei a atitude hipócrita de esconder um copo quando um fotógrafo se aproximar. Eu não sou propagandista de hipocrisia", disse à revista "Manchete".

Resgata também entrevista à "Fatos e Fotos", de 1966, em que ele e Geraldo Vandré, defensores da MPB "pura", digladiavam com o iê-iê-iê de Roberto Carlos.

"Que tal seria trabalhar do outro lado, Roberto? Quer dizer, você jogar no nosso time? Por que não seguir o caminho aberto pelo João [Gilberto]?", Chico provocava. Roberto: "Comecei por este caminho. Depois, encontrei um jeito mais fácil de me comunicar. E comunicar é o mais importante, segundo todos nós".

Que ironia, comunicar-se era o mais importante no final dos anos 1960 -mesmo para os hoje calados Chico Buarque e Roberto Carlos.

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