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Crítica/9ª BIA Decadente, evento encolhe enquanto economia cresce FERNANDO SERAPIÃOESPECIAL PARA A FOLHA Poderíamos elencar pontos positivos na transferência da Bienal de Arquitetura para a Oca -em consequência do desentendimento entre a Fundação Bienal e o Instituto de Arquitetos do Brasil. O primeiro deles foi, por força da mudança, diminuir 60% da área: era difícil preencher com qualidade os 24 mil m2 do pavilhão da Bienal. Manter a periodicidade também é positivo e a exposição geral de arquitetos teve mérito ao selecionar os trabalhos. Mas os problemas são tantos que colocam os pontos positivos em xeque: a diminuição do tamanho foi em vão (ficou evidente a ausência de conteúdo), a manutenção da periodicidade é questionável (não seria melhor adiar e expor com dignidade?) e, mesmo com seleção, a exposição não reflete o mais significativo da produção brasileira. Afinal, no momento em que o Brasil cresce e constrói muito, é papel de uma bienal exibir as boas práticas. Reina o amadorismo, e o clima da mostra é de saguão de faculdade. São raras as boas exposições de arquitetura -exceções ocorreram recentemente no Museu da Casa Brasileira, no Instituto Tomie Ohtake e no MAM-SP-, mas a expectativa foi edificada pela própria curadoria. Em reportagem publicada em março nesta Folha, Valter Caldana, o curador, anunciou que a mostra perderia o "caráter de feira" e seria mais "crítica". Ocorreu o contrário: a fim de pagar a dívida da edição passada, a maior parte do espaço foi alugada (para prefeituras, países etc.), e a curadoria foi anulada. Até as mostras dos países, em geral com qualidades acima da média, estavam pior, revelando a crise europeia: apequenados, três países replicaram o que foi exposto em Veneza há mais de um ano. A presidente do IAB-SP, Rosana Ferrari, em uma tentativa desesperada de terceirizar a Bienal, diluindo-a por espaços culturais alheios, afirmou que o evento iria se espalhar pela cidade e por vias públicas. Não funcionou. No fim, perderam todos: os arquitetos, fragilizados pela qualidade de sua representação, e o cidadão, que não teve oportunidade de visitar uma mostra que ajudaria a explicar a importância da arquitetura para a sociedade. O único feito da edição foi surpreender um articulista da prestigiosa revista inglesa "Architectural Review". Resenhando a montagem anterior, ele afirmou que havia um lado positivo naquela péssima bienal: seria impossível montar algo pior. FERNANDO SERAPIÃO é crítico de arquitetura e editor da revista "Monolito". Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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