Índice geral Ilustrada
Ilustrada
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Crítica Retrospectiva Marilyn

Ciclo radiografa esforço da estrela para ser reconhecida como intérprete séria

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

O problema de Marilyn Monroe foi ter criado um personagem forte de que nunca pôde se libertar. Ela era a loura de movimentos de lábios e quadris que mais pareciam os de um desenho animado.

Sabia lançar olhares e insinuar os seios de uma maneira a que nenhum homem poderia ficar indiferente; parecia sempre indefesa, mas de um modo que estimulava o mundo inteiro a socorrê-la.

Todos esses atributos, mais a beleza, mais as formas que pareciam querer saltar para fora dos vestidos, fizeram de Marilyn uma estrela. Mas era também uma excelente comediante, o que começa a ficar demonstrado em "O Inventor da Mocidade" (1952), que está na mostra da Cinemateca.

O pequeno papel acaba lhe dando a oportunidade de coestrelar "Os Homens Preferem as Loiras", em 1953, também escalado para a retrospectiva. A palavra é coestrelar mesmo, pois, embora a loira fosse ela, o diretor do filme, Howard Hawks, não via o menor encanto nela. Gostava mesmo era da morena Jane Russell (1921-2011).

Quem lhe dava todo valor era Billy Wilder (1906-2002), de quem o ciclo exibe "O Pecado Mora ao Lado" (1955) e "Quanto Mais Quente Melhor" (1959).

"Pecado" não ficou famoso apenas por ser uma comédia de primeira, mas, sobretudo, porque o marido de Marilyn, o jogador de beisebol Joe Di Maggio, nunca superou o ciúme pela cena em que um jato de ar levanta a saia da personagem dela.

Desde então, Marilyn podia se sentir duplamente frágil. Como atriz, não se contentava em brilhar nas comédias de que participava; queria ser uma atriz dramática, levada a sério. Como mulher, nunca se recobrou do golpe que foi o divórcio de Di Maggio (nem ele, aliás).

Para alcançar o reconhecimento de intérprete grave, intensa, lançou-se às "Torrentes de Paixão" (1953) -outro a ser exibido em São Paulo-, mas dali ainda sobressaía a loura de desenho animado, só que agora num drama.

Tentou, por fim, em "Os Desajustados" (1961), que também está no festival da Cinemateca. Tudo ao redor exalava prestígio. John Huston era o diretor, o dramaturgo Arthur Miller (1915-2005) assinava o roteiro e o elenco tinha Clark Gable (1901-60) e Montgomery Clift (1920-66).

Ela até conseguiu, mas o filme resultou enfadonho, talvez sério, "artístico" demais para o que público esperava de Marilyn.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.