Isabelle Huppert se embrenha na selva filipina

Em 2009, o diretor filipino Brillante Mendoza foi a São Paulo apresentar uma retrospectiva de seus filmes.

Soube que a atriz francesa Isabelle Huppert ("A Professora de Piano") estava na cidade com uma peça. Pediu um encontro com ela.

Acostumada a papéis mais cerebrais rodados na Europa, recebeu um convite estranho: embrenhar-se na selva filipina por quatro semanas, em meio a cobras e escorpiões.

Ela é uma das reféns mantidas por uma milícia muçulmana em "Captive", em competição no Festival de Berlim e inspirado em fatos reais.

Mergulha num cenário como o de "Lost", fugindo de tiros de metralhadora e acordando com sanguessugas nos braços. "Pela primeira vez, não tive de construir um personagem, só viver uma experiência. Na selva, você perde o senso de identidade. Para um ator, esses são os lugares mais confortáveis."

Uma referência foi o livro "Não Há Silêncio que Não Termine", da ativista colombiana Ingrid Betancourt, refém das Farc por seis anos.

"No começo você tem medo da selva, mas depois o medo passa. Desenvolve-se uma relação com a natureza que dá esperança e prazer. E não há muitas fontes de prazer possíveis para uma refém."

Com uma galeria de personagens extremos, Huppert desmente a fama de gostar de projetos difíceis.

"Não é o grau de dificuldade que me motiva, mas a possibilidade de explorar o universo de cada diretor. Eu e Mendoza nunca falamos sobre o filme; bastava o confronto entre nossas diferenças. Ao chegar a Manila, por exemplo, fui conhecer seu estúdio ao ar livre. É o melhor modo de conhecer alguém."

Aos 58 anos, Isabelle Huppert faz um novo longa com Michel Haneke -diretor que a mergulha "numa selva mental"- e lança ainda neste ano filmes com o coreano Hong Sang-soo e o italiano Marco Bellocchio.