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Crítica História Livros partem dos espaços domésticos para investigar história da vida privada FERNANDO SERAPIÃOESPECIAL PARA A FOLHA Dois livros recém-lançados investigam a história dos ambientes. Mas não são tratados enciclopédicos para os iniciados no assunto, arquitetos ou decoradores: ambos navegam pela história da vida privada. Os espaços domésticos são apenas o argumento. Eles figuram no centro de um gênero que tem, em um dos extremos, os livros que abordam realmente a história dos ambientes, como os do escocês Witold Rybczynski, e, na outra extremidade, os autores que extrapolam a historiografia arquitetônica e usam o tema para explicar a sociedade, como é o caso de Gilberto Freyre. O primeiro lançamento é "Em Casa", do escritor norte-americano Bill Bryson, autor do best-seller "Breve História de Quase Tudo". Bryson vive no interior da Inglaterra em uma antiga casa paroquial de uma aldeia e é justamente a partir da observação de seu próprio lar que surgiu a inspiração para o livro. Sem sair de casa, ele começa uma sedutora viagem por todos os ambientes: a cozinha, a sala de estar etc. Contudo, ele não se contém em destrinchar a origem dos espaços e investiga os assessórios da vida privada. Narra costumes, curiosidades e hábitos. Ao falar da caixa de fusíveis, ele conta a história da lâmpada elétrica. Uma nota negativa, e previsível: a história gira (quase) somente no universo anglo-saxão. Uma das conclusões que ele sugere é quase desconcertante: a história da casa pode ser traduzida na busca do homem pelo conforto, individualidade e privacidade. Nada mais óbvio se pensarmos na quantidade crescente de banheiros. Mas é curioso confrontarmos esse fato com as casas de vanguarda: muitas são belíssimas, mas desconfortáveis. A Casa de Vidro de Philip Johnson, perto de Nova York, é um bom exemplo: a privacidade do morador -o próprio arquiteto- estava garantida somente no banheiro. QUARTOS O segundo livro que aporta nas livrarias é da lavra da francesa Michelle Perrot e foca num único ambiente: o quarto. Historiadora, ela compôs seu "História dos Quartos" a partir do uso: o quarto do rei, o quarto de dormir, o quarto de criança etc. Ao se prender ao tema, ela saiu do ambiente doméstico e investigou quartos de hotéis, hospitais, entre outros. Navegando pela história dos quartos, voltei à Casa de Vidro de Jonhson. Anos após construir sua morada transparente, ele se incomodou com a falta de privacidade no mais privativo dos ambientes. Construiu, em frente ao volume de cristal, uma caixa de tijolos, com poucas aberturas, para dormir, fazer sexo e conviver com seus fantasmas longe dos olhares alheios. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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