Filme sobre crise europeia mistura realidade e ficção

Tony Gatlif, diretor francês de origem cigana de filmes como "Gadjo Dilo" (1997) e "Exílios" (2004), estava deprimido com a onda de violência contra os ciganos na Europa nos últimos anos.

Pensou em largar o cinema e virar músico. Até que um amigo lhe mostrou "Indignez-vous!", pequeno ensaio político do ativista francês Stéphane Hessel, obra crítica contra a globalização.

Inspirado pelo livro, ele encontrou por acaso num bar em Paris a imigrante senegalesa Mamebetty Dialo.

Levou-a à Grécia e lá começou com ela uma ficção, em que uma viajante desembarcava ilegalmente num porto grego e presenciava a miséria dos imigrantes que ali chegaram antes dela.

Porém, quando começaram os protestos contra o sistema financeiro em Atenas, Madri e Paris, Gatlif acrescentou um componente ao projeto: desiludida com o que encontra na Europa, a imigrante vivida por Betty cai de paraquedas nesses movimentos, juntando a sua indignação de imigrante à da classe média em plena crise.

Nasceu assim "Indignados", um dos documentários mais atuais exibidos no Festival de Berlim. À ficção e às cenas inéditas dos protestos, Gatlif ainda intercala um ensaio poético de imagens e frases, ao estilo de Godard.

"Meu filme começou a se impregnar desses movimentos", contou o diretor. "Quando chegamos para filmar na Porta do Sol, em Madri, os manifestantes não queriam permitir. Para eles, as câmeras de TV manipulam e distorcem o que eles fazem."

"Pedi então para pesquisarem meu nome no Google e verem que sou um cineasta com um trabalho sério. Só daí me credenciaram e me deram livre acesso", afirmou.

O resultado não apenas tirou o cineasta de sua crise artística como tomou o pulso das crises políticas e ideológicas que se cruzam na Europa, cindida entre o que não pode dar hoje nem a seus cidadãos nem a seus imigrantes.